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quarta-feira, 1 de julho de 2015

Resenha: O oceano no fim do caminho (Neil Gaiman, 2013)

Intrínseca (2013), 208 páginas
Quando tomei conhecimento da existência deste livro e tive a oportunidade de adquiri-lo, uma única frase se passou pela minha mente: "É do Neil Gaiman!". Sou fã desse autor há anos por causa de Sandman, sua obra-prima em formato de história em quadrinhos. Outra joia dele é Stardust, que inspirou um filme britânico de sucesso, frequentemente reprisado na Globo.

A narrativa, bastante introspectiva, é construída a partir das reminiscências do protagonista (cujo nome não nos é apresentado) sobre um período de sua infância muito feliz e, ao mesmo tempo, perturbador, durante o qual ele conheceu e conviveu com as mulheres Hempstock - em especial, Lettie, (aparentemente) alguns anos mais velha do que ele. Ao se sentar à margem do laguinho que Lettie chamava de oceano, as recordações voltam à tona, como se tivessem sido subitamente soltas, após terem estado presas a uma pedra no fundo do lago. Poucos trechos falam sobre o antes e o depois dessa época. O restante da vida do personagem, tanto criança como adulto, parece ter sido marcado pela solidão.

Neil Gaiman (1960 - ...)
O primeiro contato do protagonista com as Hempstock se dá de forma concomitante ao início de uma sucessão de eventos sobrenaturais e assustadores, em meio aos quais a amizade com Lettie cresce e floresce. Com o desenrolar dos acontecimentos, as duas crianças vão manifestando qualidades que não sabiam que tinham. Uma das mensagens da história é a de que não podemos reter as pessoas queridas; precisamos deixar que elas passem e se transformem, quando chegar a hora, e devemos seguir por nossas próprias estradas de coração aberto, levando apenas os bons sentimentos e qualidades despertados. Outra mensagem deixada pelo livro é a de que a verdadeira essência de cada um permanece, apesar de todas as transformações ocorridas.

As Hempstock são criaturas especiais, bastante misteriosas. Fiquei com a sensação de que muito mais poderia ter sido contado sobre elas. Mas Neil Gaiman costuma ser assim mesmo: joga a ponta de um novelo reluzente, que o leitor, se quiser, deve continuar puxando por conta própria. De qualquer forma, a história é do tamanho que precisa ser, exatamente como o oceano de Lettie. Uma fábula curta para aquecer o coração de adultos, que nos fala de infância, magia e amizade.

Por Mariana Piacesi

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Resenha: Jesus, o Filho do Homem (Khalil Gibran, 1928)

Martin Claret (2014), bolso, 165 páginas
"Mas esse homem, Jesus, esse Nazareno, Ele falou de um Deus tão vasto que não se parece com a alma de qualquer homem, sábio demais para punir, amoroso demais para lembrar os pecados de todas as Suas criaturas. E esse Deus do Nazareno irá passar através dos limiares da consciência dos filhos da terra e sentará à lareira deles e será uma bênção no interior de seus muros e uma luz sobre o caminho deles." (Um filósofo persa em Damasco)

O que um muçulmano tem a ver com Jesus? Essa é uma pergunta que encerra duas ignorâncias fundamentais. A primeira, a do desconhecimento de que o Islã vê Jesus (em árabe ʿĪsā) como um mensageiro de Deus de uma maneira especial, talvez até mais que Maomé, uma vez que seu nome aparece mais vezes no Alcorão do que o do Profeta, e atribuem-se a ele qualidades sobre-humanas que Maomé jamais arrogou a si mesmo. A segunda, de que Khalil Gibran (pronuncia-se, aproximadamente, /Jubrã/), embora nascido no Líbano, veio de família cristã maronita, intimamente ligada à Santa Sé da Igreja Católica, religião que desempenha importante papel cultural e político na história de seu país, por exemplo, na chefia do estado (com duas exceções, desde o Pacto Nacional de 1943, todo presidente do Líbano é maronita) e na língua siríaca empregada na liturgia, dialeto originado do idioma que teria sido falado por Jesus, o aramaico. Gibran recebeu também influência do Islã, em especial dos sufis (místicos muçulmanos) e da Fé Bahá'í, tendo, portanto, uma formação religiosa multi-confessional.

É com grande interesse que volvemos a atenção para o que o autor do mundialmente famoso "O profeta" tem a dizer sobre Jesus, nessa obra construída como uma coletânea de 77 depoimentos (fictícios) de testemunhas da época de Cristo, amigos, familiares, opositores, etc., em prosa recendendo a poesia, acrescida do 78°. testemunho, de "um homem do Líbano, dezenove séculos depois" - ele mesmo.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha: "Fernão Capelo Gaivota" (Richard Bach, 1970)

Record (2004): 78 páginas
"No que interessa à maioria, o importante não é voar, mas comer. Para essa gaivota, porém, o que importava não era a comida, mas o vôo. Mais do que qualquer outra coisa, Fernão Capelo Gaivota adorava voar."

Obra lida na minha juventude, leitura obrigatória exigida na escola. História curta, que não demandou muito do meu tempo de menina que achava que a vida adulta era algo distante, bem distante da realidade do momento. Lembro que fiquei impressionada com a mensagem, embora não conseguisse compreender tudo o que o autor esperava passar. Acabei lendo outras obras dele que atiçarem essa minha busca pelo meu melhor. A apresentação da ideia que nossa visão era limitada e que há muito mais a aprender e compreender do que pensamos e estamos dispostos a fazer.

Mais tarde, reencontrei esta obra, mas no filme cuja trilha sonora é fantástica. Neste momento, não era mais tão menina, estava conhecendo o amor e este foi o presente que eu guardei no coração dessa experiência. O filme e a música me encantaram, o que me surpreendeu considerando que era um filme sobre gaivotas! Tal qual o livro! O diretor conseguiu, majestosamente levar a ideia do livro para as telas. Obviamente a trilha sonora ajudou muito, pois ouvindo-a que eu senti pela primeira vez a ideia de Deus.
Fernão Capelo Gaivota é a história do que somos, do que buscamos e do que desejamos encontrar em nossas vidas: um sentido muito maior do que o mero sobreviver.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Resenha: "Bling Ring: a gangue de Hollywood" (Nancy Jo Sales, 2013)

Intríseca (2013): 272 páginas
“Pra mim é toda a ideia em torno do narcisismo e dos reality shows da TV e da obsessão com as redes sociais, tudo pelo qual os jovens dessa geração se mostram obcecados – seguiu ela – e do modo como são mimados. Eles – os garotos da Bling Ring – não viam problema em entrar naquelas casas e pegar o que quisessem.”

Entre 2008 e 2009, as residências de Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Paris Hilton e diversas outras celebridades foram invadidas e saqueadas. Os ladrões, um grupo de jovens criados em um endinheirado subúrbio de Los Angeles, levaram o equivalente a 3 milhões de dólares em joias, dinheiro e artigos de grife, como relógios Rolex, bolsas Louis Vuitton, perfumes Chanel e jaquetas Diane von Furstenberg.

Os jovens da Bling Ring iam muitas vezes “às compras”, como se referiam aos seus roubos, munidos de listas de roupas que pertenciam às suas vítimas famosas, itens selecionados a partir de suas pesquisas na internet. As notícias surpreendentes sobre o caso chocaram Hollywood e intrigaram o mundo. Por que esses garotos, que em nada correspondiam à tradicional imagem dos bandidos, realizaram crimes tão ousados?

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Resenha: "Um bom professor faz toda a diferença" (Taylor Mali, 2012)


Sextante (2013): 118 páginas
"Os professores preferem se concentrar no verdadeiro objetivo: não necessariamente produzir futuros graduados em Harvard, mas estimular o desenvolvimento de indivíduos que gostem de aprender coisas novas, sejam naturalmente curiosos, confiantes e flexíveis e estejam prontos para qualquer desafio que encontrarem pela frente."

Nesta data dedicada a homenagear o professor, nós do blog sugerimos a leitura desta obra por resgatar o valor desse profissional. Texto direcionado tanto a este, que muitas vezes se vê desmotivado no exercício da profissão, assim como para nós, que fomos, ou ainda somos, alunos. Pois todos nós tivemos um professor que nos ensinou algo. Pode ser aquele professor formal, da escola, como pode ser aquele que encontramos na vida, em momentos únicos e que muito deixam em nossa alma.

O autor escreveu a presente obra para explanar a experiência que tivera, quando, numa reunião social, determinada pessoa tentou denegrir sua carreira. Em resposta, fez uma poesia, pois na hora o sentimento de revolta não lhe permitiu racionalizar uma resposta educada mas contundente à pessoa. Este livro tratará das partes que a compõe, que foi inspirada desta provocação e que acenderá em mil corações o desejo de lecionar.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Resenha: Comer animais (Jonathan Safran Foer, 2009)

Ed. Rocco (2011), 320 páginas
"Ninguém mais pode negar as proporções sem precedentes dessa sujeição do animal [...] Uma sujeição dessas [...] pode ser chamada de violência no sentido mais moralmente neutro do termo [...] Ninguém pode negar com seriedade, ou durante muito tempo, que os homens fazem tudo o que podem para dissimular essa crueldade ou para escondê-la de si mesmos, a fim de organizar numa escala global o esquecimento ou a compreeensão equivocada dessa violência" (Jacques Derrida, filósofo francês, grifo nosso).

Como diz o título da obra, "Comer animais" é sobre... comer animais. Óbvio? No entanto, não é uma obra gastronômica, nem a favor nem contra o uso de animais na alimentação. O foco não é a boa alimentação, mais saudável para o ser humano, nem a dieta alimentar e seus fins estéticos. É uma visão de fora do antropocentrismo que perscruta essa relação tão perturbadora entre o Homem e o Animal no âmbito do que chamamos "comer". Porque "comer" não é só "alimentar-se",  sob cuja onipresente justificativa de necessidade, questões de capricho pessoal e cultural criaram uma situação de subjugação, do bicho homem sobre as demais criaturas, sem precedentes na história da cadeia alimentar; e "animal", bem, precisa ter seu significado restaurado, precisa ser resgatado de nosso esquecimento voluntário, afinal "você sabe que galinha é galinha, não sabe?".

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Resenha: A desobediência civil (David Henry Thoreau, 1849)

Companhia das Letras (2012), 152 páginas
"À diferença daqueles que se dizem antigovernistas, eu não peço a imediata abolição do governo, mas [peço um governo] que seja melhor agora mesmo. Que cada homem faça saber qual é o tipo de governo capaz de conquistar seu respeito, e isso já será um passo na direção de alcançá-lo" (grifo do autor).

Segundo o site Impostômetro, até o dia 15 de setembro de 2014, neste ano foram pagos mais de 1 trilhão, 150 bilhões e 871 milhões de reais em impostos. Mais de 3 milhões por minuto. Quase 6 mil reais por habitante. E ainda faltam três meses para acabar o ano! Em geral, o brasileiro passa 5 meses do ano trabalhando para pagar seus impostos mas, na relação dos 30 países com maior carga tributária do mundo, o Brasil fica em último lugar em retorno de benefícios para a população. Segundo o Fórum Econômico Mundial, de 148 países comparados, o Brasil está muito mal posicionado no "ranking" de infraestrutura, educação, saúde, pesquisa e inovação, segurança pública, etc. Outro dado relevante é do levantamento entre os países do G20 (os 19 países de maior economia, mais a União Europeia): os ricos pagam menos impostos no Brasil que nos demais países. Aqui, a maior incidência de tributação indireta penaliza os mais pobres e subsidia serviços privados justamente para a parcela da população de maior renda (o "bolsa rico"). (Veja mais na seção "Leituras recomendadas", no fim deste artigo.)

Revoltado? Henry David Thoreau (1817 - 1862) demonstrou sua revolta recusando-se a pagar os impostos pessoais durante seis anos. Foi chamado a prestar contas mas manteve a resolução de não conivir com o governo: os impostos financiavam uma guerra (contra o México, que terminou com cerca de 30 mil mortes) e a escravidão, o que, para ele, era um fim amoral dado aos recursos públicos. Dessa forma foi preso, saindo no dia seguinte porque "infelizmente" (segundo suas própria palavras) alguém se propôs a quitar sua dívida. Esse episódio o inspirou a fazer um pronunciamento que, no ano seguinte, seria publicado como "Resistance to Civil Government" ("Resistência ao governo civil"), hoje mais conhecido como "A desobediência civil".

A seguir, mais que uma resenha, um sumário circunstanciado da obra, com fartas citações, incluindo passagens de outros dois textos ("A escravidão em Massachusetts" e "A vida sem princípios"), que também compõem esta edição:

  • A desobediência civil (1849)
  • Onde vivi, e pra quê (1854), 2º. capítulo de "Walden" 
  • A escravidão em Massachusetts (discurso proferido em 4/7/1854) 
  • Caminhar (1862) 
  • Vida sem princípios (1863) 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Resenha: "A arte de amar" (Erich Fromm, 1956)

Ed. Itatiaia (1958), 171 páginas
"Quem nada conhece, nada ama. Quem nada pode fazer, nada compreende. Quem nada compreende, nada vale. Mas quem compreende também ama, observa, vê... Quanto mais conhecimento houver inerente numa coisa, tanto maior o amor... Aquele que imagina que todos os frutos amadurecem ao mesmo tempo, como as cerejas, nada sabe a respeito das uvas." (Paracelso)

Esta é a citação que consta do livro antes de iniciarmos a leitura, o que, de certa forma, possibilita um vislumbre da proposta do autor. Não se trata de um tratado a respeito do amor, é uma obra curta. Contudo, não te iluda leitor, pois cada parágrafo possui uma mensagem para refletir; o que nos faz parar para pensar e perguntar: "Será?"

Conheci Erich Fromm pela aquisição da obra "Anatomia da Destrutividade Humana", por indicação de um amigo (aguardem resenha para o próximo ano. "Excelente obra!"). Encantada pela fluidez do texto e sua lógica de pensamento, resolvi pesquisar outros trabalhos de sua autoria. Foi quando cheguei nesse livro, cujo título me arrebatou na hora: "A Arte de Amar". Quis saber o que ele tinha a me dizer a respeito do amor. Feito o pedido na Estante Virtual, o intervalo entre a espera e chegada da obra encheu-me de expectativas. Iniciada a leitura, não me decepcionei. Não se trata de romance, e nem de texto técnico. O autor consegue conversar com o leitor, fazendo as pausas necessárias para que o mesmo possa refletir a cada argumentação ou questionamento.

Antes mesmo de chegar à última página, já teria encomendado outras edições para doação ao Projeto Ler é Viver. Sabe aquele livro que te conquista e tu queres que todos que tu conheces, ou não, também leiam? Foi assim que me senti: inebriada. Vou te contar a razão de tudo isso... só um pouquinho. Espero que o suficiente para despertar em ti, estimado leitor, a curiosidade de também descobrir o que este livro tem a te dizer.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Resenha: Grandes Esperanças (Charles Dickens, 1861)

Ed. Landmark (2013): 528 páginas
"No pequeno mundo em que vivem as crianças, não importa quem as crie, nada é mais delicadamente percebido, nada é mais delicadamente sentido que a injustiça."

Charles Dickens foi um escritor inglês muito popular no Reino Unido durante a era vitoriana (período de reinado da Rainha Vitória que se iniciou em junho de 1837 e se estendeu até janeiro de 1901). A primeira infância foi caracteriza por um padrão de vida razoável, que lhe permitiu estudos de qualidade e leituras dos clássicos que lhe influenciaram depois.

Todavia, por conta da prisão do pai por dívidas, foi obrigado a trabalhar, quando fez 12 anos,  "na empresa Warren’s onde se produzia graxa para os sapatos com betume, junto à actual Estação ferroviária de Charing Cross. O seu trabalho consistia em colar rótulos nos frascos de graxa, ganhando, por isso, seis xelins por semana. Com o dinheiro, sustentava a família, encarcerada na prisão para devedores, em Moure onde ia dormir"  (saiba mais aqui).

Notaremos em seus romances uma crítica social, não muito comum na época, sobre as condições de trabalho e a questão da possibilidade de ascensão social vinculada a fatores externos, como o recebimento de herança. Sendo esta última a situação vivida por seu pai que os fez melhorar de vida novamente, embora sua mãe o tenha mantido na fábrica ainda por certo tempo, fato que lhe deixou mágoas.

Entre dezembro de 1860 e agosto de 1861, publicara na revista semanal "All the year round" o folhetim que deu origem ao romance "Grandes Esperanças".

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Resenha: "Admirável mundo novo" (Aldous Huxley,1932)

Ed. Globo (2009), 398 páginas
"Cada vez que as massas tomavam o poder público, era a felicidade, mais do que a verdade e a beleza, o que importava"

"E se...?". A faculdade de imaginação praticamente impossibilita o homem de permanecer inculpe no exercício de seu livre-arbítrio. Aldous Huxley propõe nesta obra um formidável desdobramento ficcional de decisões e valores que vêm se formando e intensificando desde que a Ciência e a Tecnologia, ao contrário do sábado, deixaram de ser feitas para o homem, e restringiram a uma única alternativa a solução para a felicidade, cujo conceito também se restringiu a standards praticáveis em esteira de produção.

De fato, retomando a antiga ferramenta lógica do "reductio ad absurdum" (redução ao absurdo), de que Platão se valeu para a construção de sua "República", Huxley erige uma utopia no ano 2540 d.C. como conseqüência de premissas já assentes na constituição moral da sociedade no início do séc. XX. Data emblemática desta "transvaloração de todos os valores", como diria Nietzsche, o ano da fabricação do primeiro automóvel Modelo "T", 1908, torna-se o marco inicial desta nova era que deixou para trás "uma coisa chamada Cristianismo", "uma coisa chamada Deus", "a liberdade de ser ineficiente e infeliz" e "a ética e a filosofia do subconsumo".

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