Ed. Sextante (2009), 144 páginas |
"Não temia mais a minha própria morte ou a não-existência. Tinha menos medo de perder os outros, mesmo sabendo que iria sentir falta deles. Como é poderoso o medo da morte! [...] Ficamos tão preocupados com nossas próprias mortes que esquecemos o verdadeiro objetivo de nossas vidas."
Neste livro, o psiquiatra Brian Leslie Weiss apresenta um caso de terapia que mudou não só a vida de sua paciente como a sua própria. Formado em Yale, uma das 10 melhores universidades do mundo (52 laureados Nobel), Weiss "fazia parte da nova geração de psiquiatras biologistas", focado na nova ciência da química cerebral, moldando-se "aos estreitos caminhos do conservadorismo da minha profissão". Até então havia escrito 37 artigos científicos, e foi com visão de cientista que teve de lidar com fatos para os quais não tinha nenhuma explicação, reconhecendo que "há muitas coisas sobre a mente humana que se encontram além de nossa compreensão".
Essa reviravolta começou quando o doutor assumiu o caso de Catherine, uma jovem nervosa, sobrecarregada de temores, que "para se sentir segura, dormia dentro do armário embutido do apartamento em que morava", que tinha pesadelos, crises de sonambulismo, fobias... Sem encontrar solução para o sofrimento dela, após apelar para todos os recursos ortodoxos de sua área, Weiss recorreu à hipnose, para vasculhar lembranças reprimidas de infância da paciente. E foi voltando no tempo, voltando e voltando que se deparou com revelações e acontecimentos que não só ofertariam um novo rumo à Psiquiatria como uma nova visão da vida e da morte.
Neste curto livro, com 16 breves capítulos, um prefácio e um epílogo, o autor sumariza sua experiência (inédita para ele) com a chamada "terapia de vidas passadas", que se iniciou "fortuitamente" em seu consultório quando a regressão hipnótica voltou mais longe no tempo do que se esperava. Rompendo a "resistência de cientistas e leigos", "que se recusam a examinar e avaliar o número considerável de provas acerca da sobrevivência, após a morte física, de lembranças de vidas passadas", Weiss tomou duas atitudes que põem seu nome no rol de renomados cientistas que mantiveram "a mente aberta [porque] a verdadeira ciência começa com a observação" e, embora não pudesse explicar, também "não podia negar a realidade". Raymond Moody, Ian Stevenson e Elizabeth Kübler-Ross, entre outros, citados no texto, foram alguns dos que resolveram, primeiro, não ignorar os dados a favor da teoria da vida após a morte e, segundo, publicar suas pesquisas, sob sério risco de denegrirem sua reputação. O medo de que isso pudesse acontecer é mencionado no livro mas, como Weiss diz no prefácio, "nenhuma conseqüência que viesse a enfrentar seria tão arrasadora como a de não compartilhar o conhecimento que eu adquirira sobre a imortalidade e o verdadeiro sentido da vida".
Durante o tratamento, Catherine, em estado hipnótico, relatava imagens do que pareciam ser vidas passadas dela. Ao contrário do que divulgações sensacionalistas sobre regressão dão a entender, a paciente não relatou nenhuma experiência anterior como algum personagem famoso da História mas vidas cheias de sofrimentos ou tédio, como pessoas anônimas. Nos cerca de dez cenários de que ela se lembrou (vidas anteriores), foi empregada doméstica, escrava africana, ameríndia, troglodita, prostituta, leprosa em quarentena e, em encarnações como homem, aviador e marinheiro. São retalhos, cenas avulsas, que o estado alterado de consciência trazia à tona, e que Weiss registrava em gravações na esperança de captar as causas do tormento incapacitante que levou a paciente a recorrer ao tratamento psiquiátrico. Catherine não apenas relatava mas parecia reviver certas experiências, por exemplo, no enorme detalhismo das lembranças, incluindo percepções sensoriais como odores, somatizações de dores, falta de ar, enjoos, mudança de voz (como criança), talvez até xenoglossia (falar uma língua estrangeira sem tê-la aprendido), etc. "Durante anos, eu tratara de centenas, talvez milhares, de pacientes psiquiátricos, que refletiam todo o espectro de distúrbios emocionais [...] Sabia tudo sobre alucinações visuais e auditivas e delírios esquizofrênicos. Tratara de muita gente com [...] personalidades divididas ou múltiplas [...] e estava familiarizado com a gama de efeitos das drogas sobre o cérebro. Catherine não apresentava nenhum desses sintomas ou síndromes".
Em meio aos diálogos entre o médico e a paciente, reproduzidos no livro, o autor narra não só a prática clínica mas ajunta comentários que põem o caso individual de Catherine num contexto de outros estudos indicativos de vida após a morte. Por exemplo, ocorre entre as lembranças dela o momento da morte e os acontecimentos subseqüentes, o período intermediário. A sensação de estar levitando, ver o próprio corpo debaixo de si, ser atraída por uma luz e guiada, etc., aparecem em outros relatos semelhantes, como os de Experiência de Quase Morte (EQM). Weiss cita um - realmente impressionte! (na pg. 46) - de seu conhecimento pessoal mas os mais famosos são os estudos de Moody e, principalmente, de Michael Sabom, cardiologista que resolveu fazer experimentos com pacientes cirúrgicos, afixando placas visíveis apenas da perspectiva de quem flutuasse sobre a mesa operatória. Outros experimentos, do tipo "ganzenfeld" (para teste de percepção extrassensorial), parecem validar a suposição de que "algo" sai do corpo e tem acesso a informação além do campo dos sentidos. Estes dois últimos casos são citados noutro livro, "A explicação do inexplicável", de Carl Sargent (psicólogo inglês) e Hans Eysenck (psiquiatra alemão).
Outros acontecimentos marcantes da terapia, e que deram maior peso aos relatos das lembranças, foram as manifestações mediúnicas. Houve momentos em que Catherine, após relatar seu estado pós-morte, cedeu lugar a outras consciências, que se manifestaram com voz e estilo próprio, diverso do dela. Afora as personalidades serem notadamente diferentes de Catherine, trouxeram informações fora do âmbito de seu conhecimento, mais especificamente, sobre familiares do autor, que "estavam falando comigo, anos depois de enterrados, e provando isso com informações específicas e secretas". Outros aspectos desse mediunismo aparecem na forma de intuições e premonições que se tornaram parte da vida de Catherine e contribuíram para o convencimento do dr. Weiss de que estava diante de evidências de uma outra dimensão da vida. "Várias [pessoas] me relataram suas próprias experiências de fatos parapsicológicos [Muitas] não tinham sequer falado ao marido ou à esposa [...] Quase todos temiam que, se falassem, os outros, até mesmo a família e os terapeutas, as achariam estranhas. Contudo, esses acontecimentos parapsicológicos são bastante comuns, muito mais freqüentes do que se pensa. É só a relutância em contar essas ocorrências mediúnicas que as faz parecerem tão raras".
Muitas comunicações mediúnicas vinham de entidades que Catherine (hipnotizada) chamava "os Mestres". Juntando suas mensagens com os relatos dela mesma, o livro apresenta uma série de "doutrinas" que fazem uma convergência espetacular com ensinamentos defendidos por inúmeras religiões, vindo, no entanto, de um ambiente médico, sob escrutínio de um cientista cético. Em resumo, falam da verdadeira natureza humana, espiritual, e sua imortalidade; que o corpo perece, mas o espírito sobrevive, evoluindo sempre através de novas experiências, tanto no plano de transição como no plano físico, voltando para uma nova encarnação; que a reencarnação é oportunidade de aprendizado e de quitação de dívidas morais; que esse acerto de contas se dá com reencarnações coletivas, espíritos ligados renascem próximos, quando não na mesma família; que o cerne do aprendizado extrapola o das aquisições intelectuais; etc. Curioso, para aqueles que acham familiares essas ideias, é que o autor não é espírita nem tampouco a paciente, que "não conseguia integrar o conceito de reencarnação à sua teologia", pois era católica e até achava tudo isso "sinistro". E a impressão derivada dessas experiências e "coincidências" entre ciência e crença religiosa que o autor deixa transparecer é a de que se trata do "denominador comum de todas as religiões": a imortalidade da alma, eterna aprendiz da vida.
Com a publicação deste livro, Weiss contribui com mais elementos para o fortalecimento das esperanças daqueles que desfalecem ante as tarefas da vida, que basicamente se resumem a "nos tornarmos a semelhança de Deus através do conhecimento", mas "a experiência é necessária para somar a crença emocional à compreensão intelectual". Como dizem os Mestres, "a sabedoria se alcança de forma muito lenta [...] o conhecimento intelectual, facilmente adquirido, deve se transformar em conhecimento 'emocional' ou subconsciente. O exercício comportamental é o catalizador necessário para que possa haver essa reação. Sem ação, o conceito se esvazia e desaparece. O conhecimento teórico, sem aplicação prática, não basta". "Falar sem agir não tem valor. É fácil ler ou falar sobre amor, caridade e fé. Mas fazer, sentir quase requer um estado novo de consciência" (grifo do autor).
"Assim, se a fé não basta, talvez a Ciência possa ajudar".
"Caridade, esperança, fé, amor... todos nós precisamos conhecer bem esses sentimentos".
Brian Leslie Weiss (1944 - ...) |
Durante o tratamento, Catherine, em estado hipnótico, relatava imagens do que pareciam ser vidas passadas dela. Ao contrário do que divulgações sensacionalistas sobre regressão dão a entender, a paciente não relatou nenhuma experiência anterior como algum personagem famoso da História mas vidas cheias de sofrimentos ou tédio, como pessoas anônimas. Nos cerca de dez cenários de que ela se lembrou (vidas anteriores), foi empregada doméstica, escrava africana, ameríndia, troglodita, prostituta, leprosa em quarentena e, em encarnações como homem, aviador e marinheiro. São retalhos, cenas avulsas, que o estado alterado de consciência trazia à tona, e que Weiss registrava em gravações na esperança de captar as causas do tormento incapacitante que levou a paciente a recorrer ao tratamento psiquiátrico. Catherine não apenas relatava mas parecia reviver certas experiências, por exemplo, no enorme detalhismo das lembranças, incluindo percepções sensoriais como odores, somatizações de dores, falta de ar, enjoos, mudança de voz (como criança), talvez até xenoglossia (falar uma língua estrangeira sem tê-la aprendido), etc. "Durante anos, eu tratara de centenas, talvez milhares, de pacientes psiquiátricos, que refletiam todo o espectro de distúrbios emocionais [...] Sabia tudo sobre alucinações visuais e auditivas e delírios esquizofrênicos. Tratara de muita gente com [...] personalidades divididas ou múltiplas [...] e estava familiarizado com a gama de efeitos das drogas sobre o cérebro. Catherine não apresentava nenhum desses sintomas ou síndromes".
"Se você está lendo isso, você morreu" - cartoon satirizando um experimento de EQM. |
Outros acontecimentos marcantes da terapia, e que deram maior peso aos relatos das lembranças, foram as manifestações mediúnicas. Houve momentos em que Catherine, após relatar seu estado pós-morte, cedeu lugar a outras consciências, que se manifestaram com voz e estilo próprio, diverso do dela. Afora as personalidades serem notadamente diferentes de Catherine, trouxeram informações fora do âmbito de seu conhecimento, mais especificamente, sobre familiares do autor, que "estavam falando comigo, anos depois de enterrados, e provando isso com informações específicas e secretas". Outros aspectos desse mediunismo aparecem na forma de intuições e premonições que se tornaram parte da vida de Catherine e contribuíram para o convencimento do dr. Weiss de que estava diante de evidências de uma outra dimensão da vida. "Várias [pessoas] me relataram suas próprias experiências de fatos parapsicológicos [Muitas] não tinham sequer falado ao marido ou à esposa [...] Quase todos temiam que, se falassem, os outros, até mesmo a família e os terapeutas, as achariam estranhas. Contudo, esses acontecimentos parapsicológicos são bastante comuns, muito mais freqüentes do que se pensa. É só a relutância em contar essas ocorrências mediúnicas que as faz parecerem tão raras".
Muitas comunicações mediúnicas vinham de entidades que Catherine (hipnotizada) chamava "os Mestres". Juntando suas mensagens com os relatos dela mesma, o livro apresenta uma série de "doutrinas" que fazem uma convergência espetacular com ensinamentos defendidos por inúmeras religiões, vindo, no entanto, de um ambiente médico, sob escrutínio de um cientista cético. Em resumo, falam da verdadeira natureza humana, espiritual, e sua imortalidade; que o corpo perece, mas o espírito sobrevive, evoluindo sempre através de novas experiências, tanto no plano de transição como no plano físico, voltando para uma nova encarnação; que a reencarnação é oportunidade de aprendizado e de quitação de dívidas morais; que esse acerto de contas se dá com reencarnações coletivas, espíritos ligados renascem próximos, quando não na mesma família; que o cerne do aprendizado extrapola o das aquisições intelectuais; etc. Curioso, para aqueles que acham familiares essas ideias, é que o autor não é espírita nem tampouco a paciente, que "não conseguia integrar o conceito de reencarnação à sua teologia", pois era católica e até achava tudo isso "sinistro". E a impressão derivada dessas experiências e "coincidências" entre ciência e crença religiosa que o autor deixa transparecer é a de que se trata do "denominador comum de todas as religiões": a imortalidade da alma, eterna aprendiz da vida.
Com a publicação deste livro, Weiss contribui com mais elementos para o fortalecimento das esperanças daqueles que desfalecem ante as tarefas da vida, que basicamente se resumem a "nos tornarmos a semelhança de Deus através do conhecimento", mas "a experiência é necessária para somar a crença emocional à compreensão intelectual". Como dizem os Mestres, "a sabedoria se alcança de forma muito lenta [...] o conhecimento intelectual, facilmente adquirido, deve se transformar em conhecimento 'emocional' ou subconsciente. O exercício comportamental é o catalizador necessário para que possa haver essa reação. Sem ação, o conceito se esvazia e desaparece. O conhecimento teórico, sem aplicação prática, não basta". "Falar sem agir não tem valor. É fácil ler ou falar sobre amor, caridade e fé. Mas fazer, sentir quase requer um estado novo de consciência" (grifo do autor).
"Assim, se a fé não basta, talvez a Ciência possa ajudar".
"Caridade, esperança, fé, amor... todos nós precisamos conhecer bem esses sentimentos".
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