sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Resenha: "O duplo" (Fiódor M. Dostoiévski, 1846)

Editora 34 (2011), 256 páginas
"O amigo noturno não era senão ele mesmo - o próprio senhor Golyádkin, outro senhor Golyádkin, mas absolutamente igual a ele -, era, em suma, aquilo que se chama o seu duplo, em todos os sentidos..."

Estamos no ano de 1844, e o nosso jovem escritor Fiódor Dostoiévski escrevera o romance epistolar Gente Pobre, que foi aclamado pela crítica literária russa como sinal de uma revelação. Após publicação deste romance, Dostoiévski é alçado à celebridade literária, situação que, de certa forma, atrapalhará a avaliação das obras seguintes. E é esta obra, objeto da presente resenha, que será seu segundo trabalho. 

Um ano depois do sucesso do seu primeiro romance, temos O Duplo que refletirá o traço peculiar na obra do autor, que é a análise psicológica dos seus personagens. Todavia, tal fator que marcará seu estilo, não foi recebido muito bem pela crítica dessa vez. Os entusiastas da análise social presente em Gente Pobre olham enviesado para o enredo d´O Duplo, onde boa parte da narrativa se atém aos pensamentos e devaneios do protagonista.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Resenha: Laranja Mecânica (Anthony Burgess, 1962)

Ed. Aleph (2004), 200 páginas
"Pode não ser bom ser bom, pequeno 6655321. Ser bom pode ser horrível [...] Eu sei que perderei muitas noites de sono por causa disso. O que Deus quer? Será que Deus quer insensibilidade ou a escolha da bondade? Será que o homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?" (O chapelão* da Prestata)

Ora ora ora ora, drugui*(amigo) leitor! Pois não é que este livro também é, tipo assim, sobre essas veshkas*(coisas) sacrossantas, hein? O que aquele bizumni*(maluco) do Burgess tinha na sua gúliver*(cabeça) quando o escreveu?

Este livro talvez não chegasse às suas rukas*(mãos) não fosse o cine-cínico*: o próprio autor skazatou*(disse) que o filme homônimo de Stanley Kubrick, de 1971, foi que deu popularidade à obra, tipo assim, glorificando muito pol*(sexo) (o velho entra-e-sai) e a ultraviolência. Burgess disse que o filme facilitou o entendimento errado da obra e que esse desentendimento iria persegui-lo pelo resto de sua jizna*(vida).

E então? Além de conseguir uma tia pecúnia*($$$), que propósito o escritor tinha na rassudok*(mente) dele?

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Resenha: Estação Carandiru (Drauzio Varella, 1999)

Companhia das Letras (2012), 232páginas
"Nada é mais triste na vida de um homem do que acabar seus dias numa cadeia"

Meu caso foi diferente do que comumente se diz por aí: assistir primeiro ao filme foi o que me motivou a procurar o livro. Carandiru (2003) foi marcante. O livro no qual se baseou deveria ser algo mais! Aquela realidade me era desconhecida na prática (graças a Deus!) e na teoria, e o livro, sempre mais rico em reflexões do que qualquer adaptação cinematográfica poderia ser (mesmo uma excelente), decerto apresentaria, com ainda mais propriedade, conhecimentos sobre este submundo que sempre me deixou perplexo: o da mente criminosa. E foi uma mente em particular que me fez pôr Estação Carandiru (1999) em minha lista de desejos, e daí na pilha de leituras pendentes, e então na escala de tempo dispensado ao mergulho consciencial que a literatura tem o poder de nos fazer viver. 

No filme, "Peixeira" (interpretado por Milhem Cortaz) é um assassino que se vê subitamente no limiar do remorso pelas vidas que entregou à morte na ponta da "bicuda". A emocionante cena em que ele adentra uma igreja evangélica e "aceita Jesus", a despeito da arrepiante seqüência da rebelião e invasão do presídio pela PM, que resultou no famigerado massacre de 2 de outubro, com 111 detentos mortos, é a que guardo com maior comoção, tanto pelo milagre do arrependimento redentor como por sua conseqüente escolha de trilhar o caminho inverso dos demais, aquele que o conduziu da morte para a vida.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Palestra da Bienal: Debate sobre Adaptações Literárias


Mesa Redonda: DEBATE SOBRE ADAPTAÇÕES LITERÁRIAS: LER OU NÃO LER?
Debatedores: Fernando, Silvana, Éster e Maria José / Mediadora: Silvana (*)


Quase todos nós já lemos algum livro, clássico ou contemporâneo, traduzido de uma língua estrangeira. Neste caso, poderíamos dizer que o que lemos foi a obra original, ou seria uma adaptação? Estas e outras questões foram levantadas durante este debate. As abordagens foram diversas, na medida em que cada participante focou a sua área de atuação profissional, o que enriqueceu o diálogo. Assim, considerando estas especialidades, podemos dizer que o debate teve um viés teatral, literário e outro educacional.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Resenha: "Fernão Capelo Gaivota" (Richard Bach, 1970)

Record (2004): 78 páginas
"No que interessa à maioria, o importante não é voar, mas comer. Para essa gaivota, porém, o que importava não era a comida, mas o vôo. Mais do que qualquer outra coisa, Fernão Capelo Gaivota adorava voar."

Obra lida na minha juventude, leitura obrigatória exigida na escola. História curta, que não demandou muito do meu tempo de menina que achava que a vida adulta era algo distante, bem distante da realidade do momento. Lembro que fiquei impressionada com a mensagem, embora não conseguisse compreender tudo o que o autor esperava passar. Acabei lendo outras obras dele que atiçarem essa minha busca pelo meu melhor. A apresentação da ideia que nossa visão era limitada e que há muito mais a aprender e compreender do que pensamos e estamos dispostos a fazer.

Mais tarde, reencontrei esta obra, mas no filme cuja trilha sonora é fantástica. Neste momento, não era mais tão menina, estava conhecendo o amor e este foi o presente que eu guardei no coração dessa experiência. O filme e a música me encantaram, o que me surpreendeu considerando que era um filme sobre gaivotas! Tal qual o livro! O diretor conseguiu, majestosamente levar a ideia do livro para as telas. Obviamente a trilha sonora ajudou muito, pois ouvindo-a que eu senti pela primeira vez a ideia de Deus.
Fernão Capelo Gaivota é a história do que somos, do que buscamos e do que desejamos encontrar em nossas vidas: um sentido muito maior do que o mero sobreviver.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Resenha: "Bling Ring: a gangue de Hollywood" (Nancy Jo Sales, 2013)

Intríseca (2013): 272 páginas
“Pra mim é toda a ideia em torno do narcisismo e dos reality shows da TV e da obsessão com as redes sociais, tudo pelo qual os jovens dessa geração se mostram obcecados – seguiu ela – e do modo como são mimados. Eles – os garotos da Bling Ring – não viam problema em entrar naquelas casas e pegar o que quisessem.”

Entre 2008 e 2009, as residências de Lindsay Lohan, Orlando Bloom, Paris Hilton e diversas outras celebridades foram invadidas e saqueadas. Os ladrões, um grupo de jovens criados em um endinheirado subúrbio de Los Angeles, levaram o equivalente a 3 milhões de dólares em joias, dinheiro e artigos de grife, como relógios Rolex, bolsas Louis Vuitton, perfumes Chanel e jaquetas Diane von Furstenberg.

Os jovens da Bling Ring iam muitas vezes “às compras”, como se referiam aos seus roubos, munidos de listas de roupas que pertenciam às suas vítimas famosas, itens selecionados a partir de suas pesquisas na internet. As notícias surpreendentes sobre o caso chocaram Hollywood e intrigaram o mundo. Por que esses garotos, que em nada correspondiam à tradicional imagem dos bandidos, realizaram crimes tão ousados?

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Resenha: "Um bom professor faz toda a diferença" (Taylor Mali, 2012)


Sextante (2013): 118 páginas
"Os professores preferem se concentrar no verdadeiro objetivo: não necessariamente produzir futuros graduados em Harvard, mas estimular o desenvolvimento de indivíduos que gostem de aprender coisas novas, sejam naturalmente curiosos, confiantes e flexíveis e estejam prontos para qualquer desafio que encontrarem pela frente."

Nesta data dedicada a homenagear o professor, nós do blog sugerimos a leitura desta obra por resgatar o valor desse profissional. Texto direcionado tanto a este, que muitas vezes se vê desmotivado no exercício da profissão, assim como para nós, que fomos, ou ainda somos, alunos. Pois todos nós tivemos um professor que nos ensinou algo. Pode ser aquele professor formal, da escola, como pode ser aquele que encontramos na vida, em momentos únicos e que muito deixam em nossa alma.

O autor escreveu a presente obra para explanar a experiência que tivera, quando, numa reunião social, determinada pessoa tentou denegrir sua carreira. Em resposta, fez uma poesia, pois na hora o sentimento de revolta não lhe permitiu racionalizar uma resposta educada mas contundente à pessoa. Este livro tratará das partes que a compõe, que foi inspirada desta provocação e que acenderá em mil corações o desejo de lecionar.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Resenha: Cinzas do Norte (Milton Hatoum, 2005)

Companha das Letras (2005), 312 páginas
“... Ela não chora só por minha causa, pensei naquele momento; chora por si mesma, pela mentira de toda uma vida.”

Quando cheguei a Manaus em 2009, vindo do sul do país, não há como negar o choque. O clima, a cultura, as pessoas, tudo era muito diferente.

Na ânsia de entender um pouco mais da rica cidade, me deparei com Milton Hatoum e sua obra.

“Dois irmãos”, “Relato de um Certo Oriente” e finalmente “Cinzas do Norte”.

Fazendo uso de dramas familiares, Hatoum nos leva a uma compreensão um pouco maior do que é Manaus e de como se formou.

sábado, 11 de outubro de 2014

Projeto Ler é Viver na TV Amazonas!



É com grata satisfação que divulgamos a reportagem que foi ao ar no dia 03/10 no Jornal do Amazonas. Nela, a temática do incentivo à leitura é foco das entrevistas e nós, do Projeto Ler é Viver, não poderíamos ficar de fora! Perdoem a falta de jeito da entrevistada aqui (cof, cof!), desconsiderem o meu sobrenome estar grafado errado (quem nunca?!), pois o que importa é ver nossa iniciativa ser alvo do interesse da mídia. Vejam, curtam, compartilhem! Escolham um livro para doação e outro para leitura! Adotem a ideia do projeto: circular conhecimento!

Acessem e assistam: Servidores de Manaus usam espaço público e criam biblioteca

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Resenha: "Nossos filhos são espíritos" (Hermínio C. Miranda, 1995)


Lachâtre (2012): 240 páginas
"A geração de um corpo humano para que nele se instale um espírito é uma decisão grave, pejada de implicações e consequências. Representa um convite formal a alguém que já existe numa dimensão que nos escapa aos sentidos habituais e que estamos propondo receber, criar e educar, oferecendo-lhe nova oportunidade de vida."
 Obra indicada por um conhecido, que foi escolhida para continuar nossos estudos espíritas aqui em casa, considerando o fato de sermos responsáveis por pequenas almas. Tamanha responsabilidade levou-nos a buscar literatura para compreender sua evolução física. Superada, em parte, esta etapa, passamos para algo mais complexo: a compreensão sobre a alma desses seres tão pequenos e indefesos, mas que acabam nos ensinando mais do que esperávamos.

Esta obra é de leitura fácil e informativa. O autor almeja conversar, iniciando o leitor na compreensão dos termos que serão comumente referenciados no decorrer da obra. Não é voltada exclusivamente para o público espírita, mas, dado os seus fundamentos, traz conceitos que estão intimamente presentes no Espiritismo. O objetivo é conscientizar pais, espíritas ou não, da responsabilidade que lhes recai nas mãos com a chegada de uma criança (seja gerada ou adotada). Uma decisão que deve ser refletida e assumida com seriedade.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Coleção de Livros Infantis do Banco Itaú: peça a sua!




O Banco Itaú lança novamente a campanha "Leia para uma criança" disponibilizando gratuitamente dois livros infantis. Basta preencher um cadastro (não precisa ser correntista do banco) e aguardar pelos correios a chegada dos livros. Depois disso, é hora de ler e reler para os pequenos, fazendo da leitura um momento mágico, como tem que ser.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

2ª Feira do Livro de Manaus: 8 a 12 de outubro


Sobre o evento

A 2 º Feira do Livro de Manaus será realizado no Studio 5 Centro de Convenções e contará com uma infraestrutura em perfeita sintonia com o projeto, dispõe de praça de alimentação, banheiros, segurança própria, além de um amplo estacionamento, garantindo-se a todos, o conforto que o ambiente propicia.

No evento acontecerão várias atividades, como salas de bate papo, palestras, apresentação teatral, encontros literários, sessão de autógrafos entre outras atividades em nossa programação, contaremos com várias editoras e livrarias.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Resenha: Comer animais (Jonathan Safran Foer, 2009)

Ed. Rocco (2011), 320 páginas
"Ninguém mais pode negar as proporções sem precedentes dessa sujeição do animal [...] Uma sujeição dessas [...] pode ser chamada de violência no sentido mais moralmente neutro do termo [...] Ninguém pode negar com seriedade, ou durante muito tempo, que os homens fazem tudo o que podem para dissimular essa crueldade ou para escondê-la de si mesmos, a fim de organizar numa escala global o esquecimento ou a compreeensão equivocada dessa violência" (Jacques Derrida, filósofo francês, grifo nosso).

Como diz o título da obra, "Comer animais" é sobre... comer animais. Óbvio? No entanto, não é uma obra gastronômica, nem a favor nem contra o uso de animais na alimentação. O foco não é a boa alimentação, mais saudável para o ser humano, nem a dieta alimentar e seus fins estéticos. É uma visão de fora do antropocentrismo que perscruta essa relação tão perturbadora entre o Homem e o Animal no âmbito do que chamamos "comer". Porque "comer" não é só "alimentar-se",  sob cuja onipresente justificativa de necessidade, questões de capricho pessoal e cultural criaram uma situação de subjugação, do bicho homem sobre as demais criaturas, sem precedentes na história da cadeia alimentar; e "animal", bem, precisa ter seu significado restaurado, precisa ser resgatado de nosso esquecimento voluntário, afinal "você sabe que galinha é galinha, não sabe?".

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Resenha: "Carta a D. - história de um amor" (André Gorz, 2006)

Cosac Naify (2006): 80 páginas
“Preciso reconstruir a história do nosso amor para apreender todo o seu significado. Ela foi o que permitiu que nos tornássemos o que somos; um pelo outro, um para o outro. Eu lhe escrevo para entender o que vivi, o que vivemos juntos.”

Até o lançamento deste que foi seu último livro, o austríaco André Gorz (pseudônimo do jornalista e filósofo Gerhard Horst) era conhecido por suas obras nas áreas da filosofia e da sociologia, bem como por sua atuação política nos acontecimentos de Maio de 68 na França e em outros eventos marcantes da cultura deste país, onde se radicou.

Carta a D. transformou-o instantaneamente num enorme sucesso literário, com mais de cem mil exemplares vendidos.

O livro foi escrito para homenagear Dorine, sua esposa, com quem partilhou a vida por quase sessenta anos. Desde o início da década de 1990, Gorz vivia em retiro com a mulher, que sofria, há anos, de uma doença degenerativa.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Resenha: "Ensaio sobre a lucidez" (José Saramago, 2004)

Companhia das Letras (2004), 325 páginas
"Os votos válidos não chegavam a vinte e cinco por cento, distribuídos pelo partido da direita, treze por cento, pelo partido do meio, nove por cento, e pelo partido da esquerda, dois e meio por cento. Pouquíssimos os votos nulos, pouquíssimas as abstenções. Todos os outros, mais de setenta por cento da totalidade, estavam em branco."

Lembro de tomar conhecimento deste autor quando da sua indicação ao Prêmio Nobel de Literatura. O reconhecimento de um escritor da língua portuguesa pela academia pesou para eu buscar conhecer suas obras (hoje, levo em consideração outros critérios, mas estamos falando de uma jovem que se encantava com prêmios e elogios das críticas literárias). Para minha sorte, a indicação e o prêmio atribuídos ao escrito tinham de fato valor. Considerando a aproximação das eleições, acreditamos que a presente obra vem a calhar no atual contexto.

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