FEB (26ª. ed., 2007), 336 páginas |
"Quando a Química nos ensina que nenhum átomo se perde, quando a Física nos demonstra que nenhuma força se dissipa, como acreditar que esta unidade prodigiosa em que se resumem todas as potências intelectuais, que este eu consciente, em que a vida se desprende das cadeias da fatalidade, possa dissolver-se e aniquilar-se?" (grifo do autor).
Essa foi a grande questão que o francês Léon Denis perseguiu desde a juventude. Autodidata que afundava nos livros, aos dezoito anos se deparou, por acaso, com "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, que direcionou sua vida para o campo do experimentalismo psíquico, da filosofia espírita e para o trabalho de defesa e divulgação da Doutrina, que, na França, lhe rendeu o epítome de "Apóstolo do Espiritismo". De cidade em cidade, muitas vezes a pé, com cajado na mão, Denis realizou palestras e conferências, e escreveu brochuras sobre a existência de Deus, as bases lógicas e empíricas da vida após a morte e as implicações morais daí decorrentes. Aos 43 anos, Denis publicou "Depois da Morte" (Après la Mort), que sintetiza sua bandeira de luta, uma "filosofia serena e profunda", que moveu um enlutado ateu a se expressar desta forma: "Li 'Depois da morte' e chorei as lágrimas mais doces de minha vida [...] Gostaria de ser rico para editá-lo aos milhões e vê-lo em todas as mãos, sobre toda a Terra. Nada jamais será escrito em qualquer língua que seja tão grande e tão belo" (Em "Léon Denis, L'Apôtre du Spiritisme - Sa vie, son œuvre").
Léon Denis (1846 - 1927) |
O livro é dividido em cinco partes. Na primeira, "Crenças e Negações" (seções I - VIII), Denis aborda as ideias em torno do problema da morte, mostrando que várias civilizações antigas já possuíam a confiança na reencarnação, não constituindo, portanto, uma novidade, sequer no Ocidente, onde gregos, gauleses e cristãos também esposavam ideias de sobrevivência da alma. Embora seja estudada mais detalhadamente em outro livro, "Cristianismo e Espiritismo" (1898), a relação dos cristão (e anteriormente, dos judeus) com a crença na imortalidade da alma e das vidas sucessivas é demonstrada na ampla seção VI. É de admirar que mesmo pais da Igreja Católica tenham admitido essas ideias, como Orígenes, Tertuliano, Agostinho, Clemente de Alexandria e Gregório de Nice, que, por exemplo, disse que "a alma imortal deve ser melhorada e purificada; se ela não o foi na existência terrestre, o aperfeiçoamento se opera nas vidas futuras e subseqüentes". Esta primeira parte termina com discussões em torno do materialismo emergente da Ciência e do Positivismo, e do efeito moral imediato que decorre daí. "A moral não pode ser tomada por base, por ponto de partida. Ela é a conseqüência de princípios, o coroamento de uma concepção filosófica [...] A ideia que o homem faz do Universo, das suas leis, do papel que lhe cabe neste vasto teatro, reflete-se sobre toda a sua vida e influi em suas determinações". "O que se produz em cada um de nós, manifesta-se na sociedade inteira". Podemos, então, inferir o que resulta da concepção materialista do mundo, e Denis expõe isso com clareza.
Em "Os grandes problemas" (IX - XIV), o autor adentra nas questões da existência de Deus, da imortalidade da alma, do sentido da vida, do porquê das provações, e debate o problema na amnésia das vidas passadas. Aqui, Denis consulta "o livro do Universo" e o "livro da Consciência" para raciocinar sobre os temas propostos, porque, para ele, dada a fragilidade dos sentidos, "a razão é superior à experiência". Daí avalia que "uma lei soberana regula num plano uniforme as manifestações da vida", que "a ação de uma vontade oculta", "um fecundidade ilimitada preside à formação dos seres". "Entregue a si mesma, nada pode a matéria. Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade". Dessas e outras ponderações, Denis busca bases lógicas para uma fé raciocinada que faça frente à desesperança oriunda do materialismo.
"O mundo invisível" (XV - XXVIII) parte de ideias científicas mais modernas a respeito da constituição da matéria e avança a conclusões que prenunciam as implicações filosóficas da Física Quântica quanto à real natureza do ser. Dedica amplo espaço para a abordagem do magnetismo e da constatação dos fenômenos espíritas por renomados cientistas como William Crookes e Alfred Russel Wallace, pelo criminalista italiano Cesare Lombroso, entre outros, e do próprio movimento espírita, fundado nas investigações dos mesmos fatos, conduzidas por Allan Kardec e outras mentes ilustradas da época, como Charles Richet, Alexander Aksakof e Paul Gibier. O texto trata do corpo espiritual, chamado no Espiritismo de "perispírito", das manifestações mediúnicas e dos perigos representados pelo charlatanismo e pela venalidade, que estorvam os estudos sérios sobre o intercâmbio entre os mundos visível e invisível.
A última seção da terceira parte dá uma pincelada na "Utilidade dos estudos psicológicos", isto é, "psicologia" no sentido etimológico de "estudo da(s) alma(s)". A breve passagem faz a ponte para os temas das duas seções seguintes, "Além-túmulo" (XXIX - XLI) e "O caminho reto" (XLII - LVI), que fazem o desdobramento prático dos fatos espíritas, focando a vida da perspectiva do ser imaterial que somos, em marcha evolutiva através dos séculos, em sucessivas experiências no campo físico (material, de energia condensada) e no campo espiritual (semi-material), em ciclos de (re)encarnação e morte, até que o homem, "ser psíquico", pela força da própria vontade, de seu livre-arbítrio, se consolide no caminho do Bem Supremo, em harmonia com Deus. As duas seções mesclam a filosofia espírita, oriunda dos fatos e da razão (desenvolvidas nas três primeiras seções), e a revelação espírita, a doutrina sistematizada a partir das comunicações do Além. Sob essa óptica, Denis fala da hora da morte; do julgamento (que lembra relatos modernos de Experiência de Quase Morte), em que o espírito desencarnado se depara com a própria consciência, reavaliando os fatos da experiência terrestre; da vida na erraticidade; dos espíritos que as religiões chamam de "demônios"; etc.
A última parte analisa os aspectos morais, tanto os que devem ser desenvolvidos pelo espírito quanto os que devem ser abandonados por ele se quiser ascender na escala do progresso. Na seção sobre o orgulho, por exemplo, Denis nos diz: "Este cancro é o maior flagelo da Humanidade. Dele procedem todos os transtornos da vida social [...] tem coberto de sangue e ruínas este mundo, e é ainda ele que origina nossos padecimentos de além-túmulo [...] O orgulho não nos desvia somente do amor de nossos semelhantes, pois também nos estorva todo aperfeiçoamento, engodando-nos com a superestima nosso valor ou cegando-nos sobre os nossos defeitos. Só o exame rigoroso de nossos atos e pensamentos pode induzir-nos a frutuosa reforma. E como se submeterá o orgulhoso a esse exame? De todos os homens ele é quem menos se conhece" (grifo nosso). Sobre a necessidade de conhecimento, Denis nos lembra que podemos "neste mundo nos comunicar pelo pensamento com os Espíritos eminentes de todos os séculos e de todos os países. Eles puseram no livro a melhor parte de sua inteligência e do seu coração". Mais ainda: "A ciência humana é falível; a Natureza, não. [...] O homem leva consigo, mesmo no fundo das solidões, essas paixões, essas agitações internas, cujos ruídos abafam o ensino íntimo da Natureza. [...] é necessário impor silêncio às quimeras do mundo, a essas opiniões turbulentas, que perturbam a paz dentro e a redor de nós. Então, todos os ecos da vida política e social calar-se-ão, a alma perscrutará a si própria, evocará o sentimento da Natureza, das leis eternas, a fim de comunicar-se com a Razão Suprema" (grifo nosso).
Em "Os grandes problemas" (IX - XIV), o autor adentra nas questões da existência de Deus, da imortalidade da alma, do sentido da vida, do porquê das provações, e debate o problema na amnésia das vidas passadas. Aqui, Denis consulta "o livro do Universo" e o "livro da Consciência" para raciocinar sobre os temas propostos, porque, para ele, dada a fragilidade dos sentidos, "a razão é superior à experiência". Daí avalia que "uma lei soberana regula num plano uniforme as manifestações da vida", que "a ação de uma vontade oculta", "um fecundidade ilimitada preside à formação dos seres". "Entregue a si mesma, nada pode a matéria. Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade". Dessas e outras ponderações, Denis busca bases lógicas para uma fé raciocinada que faça frente à desesperança oriunda do materialismo.
William Crookes |
A última parte analisa os aspectos morais, tanto os que devem ser desenvolvidos pelo espírito quanto os que devem ser abandonados por ele se quiser ascender na escala do progresso. Na seção sobre o orgulho, por exemplo, Denis nos diz: "Este cancro é o maior flagelo da Humanidade. Dele procedem todos os transtornos da vida social [...] tem coberto de sangue e ruínas este mundo, e é ainda ele que origina nossos padecimentos de além-túmulo [...] O orgulho não nos desvia somente do amor de nossos semelhantes, pois também nos estorva todo aperfeiçoamento, engodando-nos com a superestima nosso valor ou cegando-nos sobre os nossos defeitos. Só o exame rigoroso de nossos atos e pensamentos pode induzir-nos a frutuosa reforma. E como se submeterá o orgulhoso a esse exame? De todos os homens ele é quem menos se conhece" (grifo nosso). Sobre a necessidade de conhecimento, Denis nos lembra que podemos "neste mundo nos comunicar pelo pensamento com os Espíritos eminentes de todos os séculos e de todos os países. Eles puseram no livro a melhor parte de sua inteligência e do seu coração". Mais ainda: "A ciência humana é falível; a Natureza, não. [...] O homem leva consigo, mesmo no fundo das solidões, essas paixões, essas agitações internas, cujos ruídos abafam o ensino íntimo da Natureza. [...] é necessário impor silêncio às quimeras do mundo, a essas opiniões turbulentas, que perturbam a paz dentro e a redor de nós. Então, todos os ecos da vida política e social calar-se-ão, a alma perscrutará a si própria, evocará o sentimento da Natureza, das leis eternas, a fim de comunicar-se com a Razão Suprema" (grifo nosso).
A obra conclui com um resumo dos "princípios essenciais da filosofia dos Espíritos", em breves nove incisos; e com uma "Conclusão", na qual faz "um derradeiro apelo, uma última exortação", que deixamos para o leitor conferir direto no texto.
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ResponderExcluirMuito bom,emprestei no Centro Espirita que freguento e fiquei encantada.Estou lendo e relendo.Se todos lessem,acho que a humanidade progrediria mais rapido.
ResponderExcluirAna Muller
Olá, Ana! Obrigado por compartilhar sua experiência e opinião! Denis tem outros livros fantásticos que esperamos resenhar também, como "Cristianismo e Espiritismo", "No invisível" e "O problema do ser, do destino e da dor". Leituras que abrem nossas mentes pra reflexões que sempre impactam no curso de nossas vidas.
ExcluirAqui no blog também temos outras resenhas de obras espíritas e científicas que abordam temas da vida após a morte e reencarnação.
Abraço!
Trabalho conciso, elegante que aborda pontos importantes da obra.
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