sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Resenha: "Nossos filhos são espíritos" (Hermínio C. Miranda, 1995)


Lachâtre (2012): 240 páginas
"A geração de um corpo humano para que nele se instale um espírito é uma decisão grave, pejada de implicações e consequências. Representa um convite formal a alguém que já existe numa dimensão que nos escapa aos sentidos habituais e que estamos propondo receber, criar e educar, oferecendo-lhe nova oportunidade de vida."
 Obra indicada por um conhecido, que foi escolhida para continuar nossos estudos espíritas aqui em casa, considerando o fato de sermos responsáveis por pequenas almas. Tamanha responsabilidade levou-nos a buscar literatura para compreender sua evolução física. Superada, em parte, esta etapa, passamos para algo mais complexo: a compreensão sobre a alma desses seres tão pequenos e indefesos, mas que acabam nos ensinando mais do que esperávamos.

Esta obra é de leitura fácil e informativa. O autor almeja conversar, iniciando o leitor na compreensão dos termos que serão comumente referenciados no decorrer da obra. Não é voltada exclusivamente para o público espírita, mas, dado os seus fundamentos, traz conceitos que estão intimamente presentes no Espiritismo. O objetivo é conscientizar pais, espíritas ou não, da responsabilidade que lhes recai nas mãos com a chegada de uma criança (seja gerada ou adotada). Uma decisão que deve ser refletida e assumida com seriedade.


A obra está dividida em 30 capítulos, curtos em sua maioria, com o propósito de levar o leitor a perceber o nível de responsabilidade que lhe é depositada quando uma criança passa a fazer parte de sua vida. Os primeiros capítulos são um relato pessoal onde ele se coloca na mesma condição daquele que busca a obra: o de um pai que se vê responsável por um ser que o olha e parece saber mais do que ele pensa. E a busca dessas informações, o caminhar da própria vida, ele vai esclarecendo conceitos e exemplificando situações que vão aclarando o seu propósito.
Hermínio Corrêa de Miranda
(1920 -2013)

Para quem já tem conhecimentos básicos sobre a Doutrina Espírita, pode considerar este início repetitivo e entediante, mas faz sentido quando pensamos em alguém que nada sabe exceto a referência que tem de Chico Xavier. Assim, ele prepara o leitor para os depoimentos e casos que irão nortear boa parte da obra, que a faz enriquecedora.

"Acho que a tônica de tais depoimentos [de espíritos que relatam suas experiência sobre a hora do parto] é o extraordinário senso de maturidade, de dignidade, de percepção e sensibilidade das pessoas regredidas. Quem está ali, vivendo a traumática experiência do nascimento, não é um bebê inconsciente, ignorante e 'desligado' de tudo, mas um ser adulto e amadurecido, na plena consciência de seus poderes e recursos intelectuais. Nele se percebe, muitas vezes, uma inteligência superior e uma experiência de inesperada amplitude e profundidade. E mais: são pessoas dotadas de apurada capacidade crítica, em condições de captar, com incrível facilidade, não só o que se diz à sua volta, mas até o que se pensa, ou apenas se sente, ainda que a palavra dita seja diferente e oposta àquilo que realmente está na mente da pessoa que fala."

Notamos neste trecho uma tendência que tem sido claramente adotada nos cuidados e na educação dos pequenos: a importância de, desde a mais tenra idade, termos consciência a respeito da sua sensibilidade. Orientações são dadas no sentido de falarmos com o bebê, conversarmos sobre o que estamos fazendo. Ver nele um ser humano capaz de compreender e ser merecedor do nosso respeito juntamente com o amor. O movimento de partos humanizados, do incentivo à conversas e os momentos de afetuosidade entre a crianças e os pais refletem o que o autor defende.

Quando nos deparamos com os casos concretos de famílias, assim como de pessoas que conseguiam "lembrar", fica interessante, pois nos remete para algo fora da nossa percepção comum (pelo menos a minha). Nesses depoimentos, vamos entendendo algumas atitudes e valorizando a importância da mãe e do pai que aprendem, muitas vezes intuitivamente, a lidar com as vicissitudes a que ficam sujeitos diante de situações inesperadas (um temor sem sentido que a criança tem, por exemplo, que decorre de um trauma vivenciado em outra vida). O próprio contexto das relações formadas, que possuem, por vezes, a finalidade de harmonizar laços que foram conflituosos em outro momento.

Acima de tudo, o autor chama atenção para a responsabilidade que temos na condução deste espírito que chamamos de filho. Ressalta nosso papel de suma importância, mas com a plena consciência que esses espíritos não são propriedade e nem um animal de estimação: são almas em evolução que, assim como nós, almejam trilhar o caminho em busca da prática do Amor.

2 comentários:

  1. Ian Stevenson, psiquiatra canadense que conduziu por cerca de 50 anos a maior investigação já realizada sobre a reencarnação, cerca de 2500 casos de lembranças de vidas passadas, opina em um de seus livros que, uma vez comprovada, a sobrevivência do ser à morte do corpo físico, e seu renascimento noutro corpo, abriria um campo extraordinário para a Psicologia moderna, uma vez que se poderiam rastrear características da psique atual (personalidade) em vivências de outras encarnações. Por exemplo, ele mesmo, convencido da autenticidade de muitos dos casos analisados, teoriza que certas fobias poderiam resultar de experiências traumáticas de vidas passadas, inclusive tendo encontrado casos que ilustram essa relação (dentre outros, o de um menino que temia aglomerações, tendo presumivelmente sido morto num linchamento na vida anterior, e o de outra criança, que se apavorava ao chegar nas imediações de um templo, próximo do qual teria sido assassinado brutalmente em uma outra encarnação - caso comprovado por documentos da época).

    Para os pais, essa hipótese, em vias de comprovação pela via científica (inclusive por teorias da Física, comprovações de fenômenos mediúnicos, relações biológicas - as famosas marcas de nascença -, regressões hipnóticas a vidas passadas, etc.), mas já amplamente aceita nos meios espiritualistas (através da mediunidade ou pela coerência lógica da doutrina), descortina uma nova faceta da tarefa educativa de que estão naturalmente incumbidos, trazendo nova compreensão para comportamentos e mesmo mazelas físicas observados nos queridos rebentos.

    Acredito que esse trabalho de Hermínio Miranda seja uma "mão na roda" por levantar essas questões e, de quebra, introduzir o leitor nos esclarecedores (ou pelo menos instigantes) princípios da doutrina espírita.

    Para o dia das crianças (e também para o das mães), é uma sugestão de leitura muito pertinente.

    Abraços, Leila!

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  2. Deveria ter conhecido esse livro há 20 anos atrás,muito esclarecedor

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