segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Resenha: Cinzas do Norte (Milton Hatoum, 2005)

Companha das Letras (2005), 312 páginas
“... Ela não chora só por minha causa, pensei naquele momento; chora por si mesma, pela mentira de toda uma vida.”

Quando cheguei a Manaus em 2009, vindo do sul do país, não há como negar o choque. O clima, a cultura, as pessoas, tudo era muito diferente.

Na ânsia de entender um pouco mais da rica cidade, me deparei com Milton Hatoum e sua obra.

“Dois irmãos”, “Relato de um Certo Oriente” e finalmente “Cinzas do Norte”.

Fazendo uso de dramas familiares, Hatoum nos leva a uma compreensão um pouco maior do que é Manaus e de como se formou.


Milton Hatoum nasceu em Manaus, passou por Brasília e São Paulo, onde cursou arquitetura e Urbanismo na USP. Foi perseguido político no regime militar e passou um período  estudando na Espanha e na França. Concluídos os estudos volta a Manaus e leciona literatura na UFAM. Nessa época, com 37 anos, publica seu primeiro romance, “Dois Irmãos”. Os demais livros foram publicados em São Paulo, onde passou a residir. Ganhou prêmios nacionais e internacionais e é considerado um dos grandes escritores vivos do Brasil.

Em Cinzas do Norte, o autor descreve os conflitos ocorridos entre Raimundo, artista nato, e Trajano, administrador e proprietário de fazenda extrativista, que se frustra com os anseios do filho de viver da pintura.

O drama se desenrola em uma Manaus pós-guerra, em tempos de regime militar, e no contraponto entre a sede da fazenda, nas proximidades de Parintins, e um Rio de Janeiro culturalmente efervescente.

O conflito, que acaba exaurindo os dois personagens, é contado por Olavo, amigo e confidente de Raimundo, que - sob a proteção de Trajano - segue carreira de advogado, e também pelas cartas escritas pelo próprio Raimundo e por Ranulfo, tio de Olavo.

Nos faz refletir sobre os efeitos de uma mentira na vida dos envolvidos.

O sentimento que me fica, após a leitura da obra de Hatoum, é de um dia também encontrar um escritor que cante e conte assim minha cidade natal.

Por Dionísio Pinheiro de Oliveira

Milton Hatoum nasceu em Manaus em 1952.
Mais detalhes em http://www.miltonhatoum.com.br/biografia/a-historia-do-autor

Um comentário:

  1. Valeu, Dionísio, por mais uma sugestão de leitura! Foi preciso um cara do sul me apresentar à literatura local pra eu tomar conhecimento... Mas, em geral, é difícil pra mim até comentar a respeito, tão contraditórias as minhas impressões a respeito de Manaus (onde nasci e sempre morei) e sua gente... O fato é que nem a Literatura amazonense me bateu à porta, nem eu olhei pela janela pra ver se estaria em algum lugar... Vejo até como icônica a biografia de Hatoum: sobrenome estrangeiro, que foi estudar fora, veio para dar aulas aqui, mas acabou voltando pro sul, e publicou apenas seu primeiro livro aqui, os demais, bem longe... Um povo que não gosta de ler (na verdade, franze o cenho quando vê alguém absorto com um livro na mão)... Escrever então! ... Foi até natural viver esquecido de que aqui também temos escritores... É o caso de começar a garimpar... E devo começar por aí... Hatoum, hein!... Abraços!

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