Ed. Aleph (2004), 200 páginas |
"Pode não ser bom ser bom, pequeno 6655321. Ser bom pode ser horrível [...] Eu sei que perderei muitas noites de sono por causa disso. O que Deus quer? Será que Deus quer insensibilidade ou a escolha da bondade? Será que o homem que escolhe o mal é talvez melhor do que um homem que teve o bem imposto a si?" (O chapelão* da Prestata)
Ora ora ora ora, drugui*(amigo) leitor! Pois não é que este livro também é, tipo assim, sobre essas veshkas*(coisas) sacrossantas, hein? O que aquele bizumni*(maluco) do Burgess tinha na sua gúliver*(cabeça) quando o escreveu?
Este livro talvez não chegasse às suas rukas*(mãos) não fosse o cine-cínico*: o próprio autor skazatou*(disse) que o filme homônimo de Stanley Kubrick, de 1971, foi que deu popularidade à obra, tipo assim, glorificando muito pol*(sexo) (o velho entra-e-sai) e a ultraviolência. Burgess disse que o filme facilitou o entendimento errado da obra e que esse desentendimento iria persegui-lo pelo resto de sua jizna*(vida).
E então? Além de conseguir uma tia pecúnia*($$$), que propósito o escritor tinha na rassudok*(mente) dele?
Tudo nachinou*(começou) com um evento ujasni*(horripilante), tipo assim, real mesmo, que aconteceu com a primeira jina*(esposa) do autor. Em 42, ela caiu em mãos de desertores do exército dos EUA, sendo toltchokada*(golpeada) e padecendo um vinte-contra-um*(estupro coletivo)... e os prestupniks*(criminosos) não estavam nem aí que ela estivesse grávida! Ela perdeu a criança... e Burgess ruminou isso por vinte anos.
No fim da década de 50, Burgess dava aula numa escolacola* em Brunei, no sudeste asiático, quando teve um pá-pou! em sala. Foi levado ao hospital e disseram que ele, tipo assim, meio que só tinha um ano de jizna*, por causa dum tumor na gúliver*, e coisa e tal. Muito mais tarde, ele razkazatou*(contou) que achava que era desculpaculpa*, tipo assim, coisa de política, pra despachá-lo mais cedo pra domi*(casa). Mas naquele tempo, tratou de escrever livro, pra deixar um pouco de denji*($$$) pra futura viúva.
Se os jalecos-brancos estivessem ok ok ok, o "Laranja" teria sido descascado apenas pela metade! Mas, depois de passar por testes cerebrais, ficou livre do aziago diagnóstico... Em 61, zarpou com a ex-futura-viúva para Leningrado, onde desenferrujou seu russo, inspiração para o pseudo-dialeto nadsat*(adolescente) em que escreveu seu mais famoso trabalho. Ele videou*(viu) que tanto no Ocidente capitalista quanto na Rússia comunista, tipo assim, pipocavam grupas ou gangues de marginaizinhos adolescentes... e esse é outro contributo para o enredo do livro.
Se o drugui* leitor lembra do filme só pelo króvi*(sangue) vermelho-vermelho escorrendo, toltchóks* de porrete, pelos pubianos esvoaçando-çando-çando e, uuhhhh! sim! bicos de grubers*(mamilos) túmidos e hipnóticos, viu apenas o tal do erro da película, que fez o autor buábuábuá pelo resto da vida. Não, Ó meus irmãos! O que o livro nos mostra é coisa profunda, tipo assim, filosofal mesmo. Remoído na própria vida do autor, o tema é o conflito entre o desespero por paz e o exercício do livre-arbítrio.
O pretexto para a reflexão é a história de Alex, um maltchik*(garoto) muito mau, realmente psicopata, que passa as notchis*(noites) com seus druguinhos* vandalizando e tocando o terror entre mendicantes e pacatos cidadãos escondidos em suas casas. Roubos, estupros, abuso de dencroms*(alucinógenos), para atiçar os sentidos e ver Bog* Todo-Poderoso na ponta dos sapatos, e bratvas*(escaramuça) encarniçadas com gangues rivais são a rotina desse molodoi*(jovem) fedelhal de apenas 15 anos de idade... O livro mergulha numas dessas notchis* de ultraviolência pura e pinta a psique bolnói*(doentia), deveras mórbida, de Alex, em sua álacre e desafogada crueldade.
Esse retrato é necessário para o que vem a seguir... não a história, mas o posicionamento ético que devemos tomar quanto ao que é narrado. Depois de cair em mãos dos miliquinhas*, a "puliça", e enviado a uma prestata* (presídio estatal), Alex se torna o cínico voluntário para um experimento de condicionamento comportamental pavloviano, cof cof cof lavagem cerebral cof, o Método Ludovico. O que o livro conta a partir daí, Ó meus irmãos!, deixo para vossa curiosidade.
Se permitis que este Vosso Humilde Resenhador esboce um comentário... se não, "aquela outra coisa"...
O mundo de "Laranja" expressa a mesma shilarnia*(preocupação) que ocupou as gúlivers* de Huxley e Orwell... (todos bebedores de tchai*, eh!). "Admirável mundo novo" é sobre felicidade vs. livre-arbítrio... "Revolução dos bichos" é sobre ... olha só! a mesma coisa... Ambos falam dessa nova ordem pós-apocalíptica (guerra, revolução) em que o mais contingente desejo humano, paz!, fez as pessoas jogarem na lata de lixo a esperança na capacidade da espécie para a escolha do bem, abdicando da liberdade de, tipo assim, ser dona das próprias decisões e submetendo-se a uma planificação total da vida por um governo totalitário.
Era pra ser um livro futurista... Mas em suas páginas lemos sobre maltchiks* que vão à escolacola quando querem, saem sob o manto da noite sedentos de aventuras criminosas; sobre devotchkinhas*(menininhas) de 9 ou 10 anos, com fones nas okas*(orelhas) ouvindo lixo sonoro, liubiliubilando*(transando) impudicamente com qualquer tchelovek*(cara) que apareça; sobre pais de orelhas baixas e rabo entre as pernas, sem qualquer moral sobre os filhos, fingindo pra si mesmos não saber o que eles fazem na vida noturna; sobre casas com grades nas janelas, tipo assim, como se fossem presídios; sobre toque de recolher (ainda que não oficial)... enfim, sobre essa kal*(merda) toda ... Hmmmmmm... Diante disso, cinqüenta anos me parece tempo suficiente pra que possamos chamar hoje de "futuro"...
Mas o que mais deixa meus glazis*(olhos) arregalados de estupefação é que "Laranja mecânica" trata da transição que vivemos, o vértice da árvore decisória, em que, parece-me, já demos passos acovardados em direção à Huxleylândia ou à Orwellândia... o que, aliás, acontece e desacontece várias vezes na História... Paulatinamente as ovelhas vão cedendo a decisão sobre suas próprias vidas a uma elite política, não menos criminosa que os criminosos, tipo assim, não menos criminosa que nós mesmos que deixamos. Burgess mostra que, assim como ele, devemos sacrificar, talvez talvez, nosso senso de justiça (ou de vingança institucionalizada) se isso significar degradar o homem ao nível de uma laranja mecânica... um orange-orango-mecânico.
Para surpresa dos fãs do cine-cínico*, a obra, que é a verdadeira original nisso tudo, tem um final diverso do do filme. É que a edição estadunidense capou o último capítulo do livro porque acharam que a esperança contida nele fosse incompatível com o cenário desalentador do espírito humano demonstrado no resto do texto... Mas a esperança está lá o tempo todo, na fé e na música...
Burgess queria ser lembrado mais como músico do que como escritor. Quando criança, ouviu uma flauta de Debussy e se apaixonou pela arte a ponto de começar a tocar piano sozinho aos 14 anos... À solução político-artificial do Método Ludovico se contrapõe a solução do método Ludwig, e com ele toda a música celestial de J.S. Bach e Mozart... o "heaven metal" que descortina outra faceta da natureza humana... A estética do bem contra a estética do mal...
E então, o que é que vai ser?
Este livro talvez não chegasse às suas rukas*(mãos) não fosse o cine-cínico*: o próprio autor skazatou*(disse) que o filme homônimo de Stanley Kubrick, de 1971, foi que deu popularidade à obra, tipo assim, glorificando muito pol*(sexo) (o velho entra-e-sai) e a ultraviolência. Burgess disse que o filme facilitou o entendimento errado da obra e que esse desentendimento iria persegui-lo pelo resto de sua jizna*(vida).
E então? Além de conseguir uma tia pecúnia*($$$), que propósito o escritor tinha na rassudok*(mente) dele?
Tudo nachinou*(começou) com um evento ujasni*(horripilante), tipo assim, real mesmo, que aconteceu com a primeira jina*(esposa) do autor. Em 42, ela caiu em mãos de desertores do exército dos EUA, sendo toltchokada*(golpeada) e padecendo um vinte-contra-um*(estupro coletivo)... e os prestupniks*(criminosos) não estavam nem aí que ela estivesse grávida! Ela perdeu a criança... e Burgess ruminou isso por vinte anos.
John Anthony Burgess Wilson (1917 - 1993) |
Se os jalecos-brancos estivessem ok ok ok, o "Laranja" teria sido descascado apenas pela metade! Mas, depois de passar por testes cerebrais, ficou livre do aziago diagnóstico... Em 61, zarpou com a ex-futura-viúva para Leningrado, onde desenferrujou seu russo, inspiração para o pseudo-dialeto nadsat*(adolescente) em que escreveu seu mais famoso trabalho. Ele videou*(viu) que tanto no Ocidente capitalista quanto na Rússia comunista, tipo assim, pipocavam grupas ou gangues de marginaizinhos adolescentes... e esse é outro contributo para o enredo do livro.
Se o drugui* leitor lembra do filme só pelo króvi*(sangue) vermelho-vermelho escorrendo, toltchóks* de porrete, pelos pubianos esvoaçando-çando-çando e, uuhhhh! sim! bicos de grubers*(mamilos) túmidos e hipnóticos, viu apenas o tal do erro da película, que fez o autor buábuábuá pelo resto da vida. Não, Ó meus irmãos! O que o livro nos mostra é coisa profunda, tipo assim, filosofal mesmo. Remoído na própria vida do autor, o tema é o conflito entre o desespero por paz e o exercício do livre-arbítrio.
O pretexto para a reflexão é a história de Alex, um maltchik*(garoto) muito mau, realmente psicopata, que passa as notchis*(noites) com seus druguinhos* vandalizando e tocando o terror entre mendicantes e pacatos cidadãos escondidos em suas casas. Roubos, estupros, abuso de dencroms*(alucinógenos), para atiçar os sentidos e ver Bog* Todo-Poderoso na ponta dos sapatos, e bratvas*(escaramuça) encarniçadas com gangues rivais são a rotina desse molodoi*(jovem) fedelhal de apenas 15 anos de idade... O livro mergulha numas dessas notchis* de ultraviolência pura e pinta a psique bolnói*(doentia), deveras mórbida, de Alex, em sua álacre e desafogada crueldade.
Esse retrato é necessário para o que vem a seguir... não a história, mas o posicionamento ético que devemos tomar quanto ao que é narrado. Depois de cair em mãos dos miliquinhas*, a "puliça", e enviado a uma prestata* (presídio estatal), Alex se torna o cínico voluntário para um experimento de condicionamento comportamental pavloviano, cof cof cof lavagem cerebral cof, o Método Ludovico. O que o livro conta a partir daí, Ó meus irmãos!, deixo para vossa curiosidade.
Se permitis que este Vosso Humilde Resenhador esboce um comentário... se não, "aquela outra coisa"...
O mundo de "Laranja" expressa a mesma shilarnia*(preocupação) que ocupou as gúlivers* de Huxley e Orwell... (todos bebedores de tchai*, eh!). "Admirável mundo novo" é sobre felicidade vs. livre-arbítrio... "Revolução dos bichos" é sobre ... olha só! a mesma coisa... Ambos falam dessa nova ordem pós-apocalíptica (guerra, revolução) em que o mais contingente desejo humano, paz!, fez as pessoas jogarem na lata de lixo a esperança na capacidade da espécie para a escolha do bem, abdicando da liberdade de, tipo assim, ser dona das próprias decisões e submetendo-se a uma planificação total da vida por um governo totalitário.
Era pra ser um livro futurista... Mas em suas páginas lemos sobre maltchiks* que vão à escolacola quando querem, saem sob o manto da noite sedentos de aventuras criminosas; sobre devotchkinhas*(menininhas) de 9 ou 10 anos, com fones nas okas*(orelhas) ouvindo lixo sonoro, liubiliubilando*(transando) impudicamente com qualquer tchelovek*(cara) que apareça; sobre pais de orelhas baixas e rabo entre as pernas, sem qualquer moral sobre os filhos, fingindo pra si mesmos não saber o que eles fazem na vida noturna; sobre casas com grades nas janelas, tipo assim, como se fossem presídios; sobre toque de recolher (ainda que não oficial)... enfim, sobre essa kal*(merda) toda ... Hmmmmmm... Diante disso, cinqüenta anos me parece tempo suficiente pra que possamos chamar hoje de "futuro"...
Mas o que mais deixa meus glazis*(olhos) arregalados de estupefação é que "Laranja mecânica" trata da transição que vivemos, o vértice da árvore decisória, em que, parece-me, já demos passos acovardados em direção à Huxleylândia ou à Orwellândia... o que, aliás, acontece e desacontece várias vezes na História... Paulatinamente as ovelhas vão cedendo a decisão sobre suas próprias vidas a uma elite política, não menos criminosa que os criminosos, tipo assim, não menos criminosa que nós mesmos que deixamos. Burgess mostra que, assim como ele, devemos sacrificar, talvez talvez, nosso senso de justiça (ou de vingança institucionalizada) se isso significar degradar o homem ao nível de uma laranja mecânica... um orange-orango-mecânico.
Ludwig Van Beethoven (1770 - 1827) O gênio alemão produziu uma música horrorshow* que reforça a fé no gênero humano. |
Burgess queria ser lembrado mais como músico do que como escritor. Quando criança, ouviu uma flauta de Debussy e se apaixonou pela arte a ponto de começar a tocar piano sozinho aos 14 anos... À solução político-artificial do Método Ludovico se contrapõe a solução do método Ludwig, e com ele toda a música celestial de J.S. Bach e Mozart... o "heaven metal" que descortina outra faceta da natureza humana... A estética do bem contra a estética do mal...
E então, o que é que vai ser?
*Vocabulário nadsat
Além duma introdução esclarecedora, a edição da editora Aleph traz uma explicação sobre a linguagem de "Laranja Mecânica" e das diretrizes que guiaram sua tradução para o português. No fim do livro, um guia para os perplexos, consta um vocabulário da gíria nadsat (adolescente) criada pelo autor a partir, basicamente, do russo.
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