sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Resenha: "Gente Pobre" (Fiódor M. Dostoiévski, 1846)


Ed. 34 (2009): 192 páginas
Quem tem medo de ler obras clássicas? E se essa obra clássica for de um escritor russo? O medo aumenta?  Então tenho boas notícias: li a obra "Gente Pobre", de Fiódor Dostoiévski e sobrevivi!! E, melhor ainda, gostei!! Queres saber como isto aconteceu? Vou te contar algumas pequenas coisas, só para teres ideia, pois saber mesmo só quando leres a obra. É uma sensação maravilhosa quando quebramos o mito das leituras inacessíveis. Eu garanto!

Para começar, vamos falar de Fiódor Dostoiévski, conhecido pelos romances "Crime e Castigo" e os "Irmãos Karamazóv" (deixemos essas obras para o futuro… neste momento daremos pequenos passos, certo?). Nascido em Moscou (Rússia), no dia 30 de outubro de 1821, filho de um médico que fora assassinado por seus próprios serviçais de sua pequena propriedade rural em 1839, sendo que no ano anterior sua mãe morrera de tuberculose. Assim, aos 18 anos, nosso escritor é órfão  e está fazendo parte da Escola de Engenharia Militar de São Petesburgo, na qual engressara em 1838.


Aos 23 anos decide levar adiante a sua vocação de escritor: abandona a Escola Militar. É quando escreverá seu primeiro romance "Gente Pobre", o qual será conhecido do público dois anos depois. Teremos, portanto, um jovem escritor de 25 anos aclamado pela crítica literária russa. Muitos percalços farão parte de sua vida ainda, mas, por ora, essas informações preliminares já são suficientes para tu, leitor estimado, conheceres o enredo da obra sugerida.

Comecemos explicando que o romance é em forma de trocas de cartas… sim, as velhas cartas de outrora, escritas à mão e marcadas pelas emoções que as acompanhavam. Os correspondentes são o funcionário menor de uma repartição pública de Petesburgo, o senhor Makar Diévuchkin (não, também não sei pronunciar!), e a sua vizinha, a órfã Varvara Alieksiêievna (idem… vamos nos ater aos primeiros nomes, certo?). Tal narrativa exige atenção aos detalhes: as datas das cartas, o modo de tratamento, o qual denotará os sentimentos dos protagonistas, o final delas no momento da despedida, que também evidenciará o nível de aproximação e afastamento que os mesmos irão viver no decorrer das trocas de mensagens.

Assim, pegando informações de um e de outro, o leitor vai construindo o enredo fora… o que se passou entre o intervalo das respostas. A participação dos personagens secundários, pelo olhar dos correspondentes, será nosso referencial do modo de vida que lhes rodeia. Aliás, se tem uma coisa que sentimos quando se lê um autor russo é o frio e a pobreza que assolam a maioria de sua população. A escassez e o viver no limite da satisfação de suas necessidades, quando possíveis, é algo que permeia a obra.

O fato é que, esperando um enredo enfadonho e excessivamente descritivo, vi-me tomada pela curiosidade e ansiedade de saber o que veria na próxima missiva. Ainda mais quando eles passavam por situação de tensão e tamanho desespero por sobreviver. O que se nota, no entanto, é que as relações humanas não são diferentes: nem o idioma e nem o aspecto geográfico diminuem o fator humano, com seus conflitos e anseios. E, no fim, o que desejamos, é ter alguém a quem possamos amar; entregar nosso coração e cuidar; fazer esse viver ter um pouco mais de sentido.

Tu, leitor moderno, depois de ler este romance, possivelmente dirás: "esta obra causou tamanho alvoroço pela crítica literária russa? Tudo bem… o escritor conseguiu fazer um enredo que nos prende a atenção,  mas daí prever que teremos o nascimento de um escrito universal, não é um pouco de exagero?" Bom, é nas minúcias que devemos nos ater. Lembra-te que este escritor tem 25 anos; que se trata de sua primeira obra. O personagem de Makar, suas divagações e conflitos, é a semente do que encontraremos nas obras maduras de Dostoiévski.

Então, para perderes o medo dos clássicos, e ainda mais dos russos, começa agora a leitura desta obra. Depois passa aqui e me diz o que achaste. Ainda teremos outros encontros, pois ainda falta te contar o que aconteceu na vida desse jovem talento literário, cuja própria história é digna de um romance. Mas, qual vida não é?

2 comentários:

  1. Dostoiévsky me prendeu a atenção desde a primeira vez que o li. E comecei por "Irmãos Karamázovy", um "classicozão"!

    Comprei nas bancas uma edição que estava com a encadernação errada... foi frustrante chegar lá pelas tantas e não poder prosseguir. Só fui terminar anos depois, após ter lido "Noites brancas" e "Crime e castigo". É um psicólogo... a humanidade, em toda sua "cavernosidade" está lá, estampada, exposta... as paixões, os vícios, os medos, ... os valores, os erros, a redenção...

    É como Beethoven: um nome que já diz tudo. Basta ouvir uma obra do gênio alemão pra gente saber que o espírito que criou aquilo produziu mais e mais, sempre se autossuperando. Não há supérfluo.

    Por ora "Pobre gente" não está na minha agenda de leituras. Espero poder ler em breve "Recordação da casa dos mortos", "Notas do subsolo" e "Os demônios". Mas Dostoiévsky é desses escritores que nos fazem querer ler toda sua obra.

    Obrigado, Leila!

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  2. Sim, essa sensação de querer conhecer outras obras do autor acaba acontecendo. Não sei se a história de vida, ou por causa do estilo que "incomoda" e instiga (possivelmente por falar do que vai na nossa sombra), o certo é que Dostoiévski é um autor que queremos conhecer mais.

    Esta obra, a primeira escrita, é como se fosse a porta de entrada desse universo russo. É cativante, para quem gosta do gênero epistolar, e permite um reconhecimento entre autor/leitor sem traumas. Para quem não se aventurou nas obras que foram mencionadas acima, por ver nelas uma complexidade difícil de levar adiante, começar pelas primeiras obras de Dostoiévski permite a quebra de paradigmas e uma ambientação ao estilo do autor. Obra curta e agradável..

    Obrigada pelo comentário. Abraços!

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