quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Palestra da Bienal: Como Apreciar um Livro

COMO APRECIAR UM LIVRO
A ARTE DE LER NAS ENTRELINHAS

Palestrante: Pedro Almeida

O que faz de um livro um sucesso de vendas? A resposta a esta pergunta é também a resposta para o tema da palestra: "Um livro faz sucesso quando faz sentido para muitas pessoas". E fazer sentido significa que o leitor se identificou com os personagens e conseguiu "entrar" na trama do livro. E o leitor entra na trama do livro quando consegue enxergar alguma parte da sua própria realidade, história ou anseios, dentro da trama do livro. Isso ocorre porque ele associa, liga, o seu conhecimento anterior, de outras leituras ou experiências de vida, para perceber o que o autor está dizendo nas entrelinhas. Como nos disse o palestrante: "A arte de ler nas entrelinhas é pensar na literatura como uma brincadeira de ligar pontos".

Esta descoberta, a do que o autor quis dizer nas entrelinha, segundo o palestrante, possui três elementos básicos: a memória, os símbolos e os padrões. Quando o leitor identifica estes três elementos no decorrer da leitura, ele consegue ir além do que foi escrito, alcançando assim o conteúdo mais profundo da obra. E estas descobertas e identificações fazem as ligações dos pontos, levando o leitor a sentir o prazer da leitura. Então ela deixa de ser passiva e mecânica, pois o leitor mergulha na trama e passa a viver a história proposta pelo autor.

Quando uma leitura provoca lembranças de experiências vividas e de conhecimentos adquiridos, anterior a esta leitura, é o elemento da memória que se faz presente. É através da memória que fazemos as associações com outras leituras, filmes, notícias, conversas, experiências de vida, etc. Ligamos os pontos, como afirmou o palestrante.

Quanto ao elemento memória, posso até citar um exemplo recente que ocorreu comigo. Enquanto lia "Formação Econômica do Brasil", em determinado trecho do livro, Celso Furtado se referia à forte influência dos holandeses no comércio e desenvolvimento da lavoura da cana-de-açúcar, no Brasil. Naquele momento me veio à lembrança o que já tinha lido a respeito dos holandeses no livro "Raízes do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda, e assim a leitura passou a ter mais sentido e profundidade. Fiz o que o palestrante chamou de ligção de pontos.

Continuando, o palestrante perguntou: o que vem a nossa mente quando encontramos a palavra vampiro em algum texto? A depender do nosso conhecimento anterior podemos associá-la à dominação, controle, escravidão, desrespeito pela autonomia, egoísmo, alguém que toma para si o destino de outra pessoa, etc. A palavra vampiro pode simbolizar tudo isso e muito mais, a depender da época (tempo), do lugar (espaço) e da experiência do leitor. Na literatura e no cinema precisamos identificar estes símbolos para apreciarmos a história e o enredo.

O palestrante usou a história de Mulan, uma corajosa jovem chinesa que se passa por um guerreiro no lugar de seu pai debilitado e ajuda o exército imperial chinês a expulsar os invasores hunos, para nos mostrar como mais tarde muitos outros autores, inclusive Guimarães Rosa, seguiram o mesmo padrão em alguma de suas obras. Sempre o mesmo padrão, com algumas variantes, a depender do momento e do lugar onde foram escritos: uma mulher que se faz passar por homem para defender alguma causa.

Lembrou inclusive de uma versão mais recente, onde um sargento se apaixona por um "soldado", na verdade mulher, a quem chama de meu soldado. Mas, quando num quarto escuro, vai as vias de fato, buscando alcançar com as mãos as partes mais íntimas do "soldado", descobre que "ele" na verdade é "ela". Fica espantado e decepcionado, abandonando-a, ali naquele quarto escuro, cheia de paixão para dar, com algumas desculpas evasivas.


A palestra foi muito instrutiva e esclarecedora, principalmente para mim que sempre fui mais voltado para leituras técnicas por conta de ter uma profissão na área de exatas. Com certeza foi um ganho estar presente na Bienal, absorvendo estas informações. Recomendo que, quem for na próxima Bienal, reserve um momento para assistir a um tema, pelo menos, que lhe possa interessar.

Sobre o palestrante:
Pedro de Almeida é jornalista e professor de literatura. Possui experiência de 20 anos, atuando na gestão de editoras de pequeno e médio porte e como publisher em editoras de grande porte, nas áreas de ficção, não ficção e auto-ajuda. Foi editor de alguns grandes best-sellers. Para quem quizer saber mais sobre ele ou mesmo fazer algum contato, seguem alguns endereços.

Site/blog: www.faroeditoral.com.br (próprio); www.faroeditora.com.br (da Editora do palestrante)

E-mail do palestrante: pedrozalmeida@uol.com.br

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