COMO
APRECIAR UM LIVRO
A
ARTE DE LER NAS ENTRELINHAS
Palestrante:
Pedro Almeida
O que faz de um livro um sucesso de vendas?
A resposta a esta pergunta é também a resposta para o tema da
palestra: "Um livro faz sucesso quando faz sentido para muitas
pessoas". E fazer sentido significa que o leitor se identificou
com os personagens e conseguiu "entrar" na trama do livro.
E o leitor entra na trama do livro quando consegue enxergar alguma
parte da sua própria realidade, história ou anseios, dentro da
trama do livro. Isso ocorre porque ele associa, liga, o seu
conhecimento anterior, de outras leituras ou experiências de vida,
para perceber o que o autor está dizendo nas entrelinhas. Como nos
disse o palestrante: "A arte de ler nas entrelinhas é pensar na
literatura como uma brincadeira de ligar pontos".
Esta descoberta, a do que o autor quis dizer nas entrelinha, segundo o palestrante, possui três elementos básicos: a memória, os símbolos e os padrões. Quando o leitor identifica estes três elementos no decorrer da leitura, ele consegue ir além do que foi escrito, alcançando assim o conteúdo mais profundo da obra. E estas descobertas e identificações fazem as ligações dos pontos, levando o leitor a sentir o prazer da leitura. Então ela deixa de ser passiva e mecânica, pois o leitor mergulha na trama e passa a viver a história proposta pelo autor.
Quando uma leitura provoca lembranças de
experiências vividas e de conhecimentos adquiridos, anterior a esta
leitura, é o elemento da memória
que se faz presente. É através
da memória que fazemos as associações com outras leituras, filmes,
notícias, conversas, experiências de vida, etc. Ligamos os pontos,
como afirmou o palestrante.
Quanto ao elemento memória,
posso até citar um exemplo recente que ocorreu comigo. Enquanto lia "Formação Econômica do Brasil",
em determinado trecho do livro, Celso Furtado se referia à forte influência
dos holandeses no comércio e desenvolvimento da lavoura da
cana-de-açúcar, no Brasil. Naquele momento me veio à lembrança o
que já tinha lido a respeito dos holandeses no livro "Raízes
do Brasil" de Sérgio Buarque de Holanda, e assim a leitura
passou a ter mais sentido e profundidade. Fiz o que o palestrante
chamou de ligção de pontos.
Continuando, o palestrante perguntou: o que vem a nossa mente quando encontramos
a palavra vampiro em algum texto? A depender do nosso conhecimento
anterior podemos associá-la à dominação, controle, escravidão,
desrespeito pela autonomia, egoísmo, alguém que toma para si o
destino de outra pessoa, etc. A palavra vampiro pode simbolizar
tudo isso e muito mais, a depender da época (tempo), do lugar
(espaço) e da experiência do leitor. Na literatura e no cinema
precisamos identificar estes símbolos para apreciarmos a história
e o enredo.
O palestrante
usou a história de Mulan,
uma corajosa jovem chinesa que se passa por um guerreiro no lugar de
seu pai debilitado e ajuda o exército imperial chinês a expulsar os
invasores hunos, para nos mostrar como mais tarde muitos outros
autores, inclusive Guimarães Rosa, seguiram o mesmo padrão
em alguma de suas obras. Sempre o mesmo padrão, com algumas
variantes, a depender do momento e do lugar onde foram escritos: uma
mulher que se faz passar por homem para defender alguma causa.
Lembrou inclusive
de uma versão mais recente, onde um sargento se apaixona por um
"soldado", na verdade mulher, a quem chama de meu soldado.
Mas, quando num quarto escuro, vai as vias de fato, buscando alcançar
com as mãos as partes mais íntimas do "soldado", descobre
que "ele" na verdade é "ela". Fica espantado e decepcionado,
abandonando-a, ali naquele quarto escuro, cheia de paixão para
dar, com algumas desculpas evasivas.
A palestra foi muito instrutiva e esclarecedora, principalmente para mim que sempre fui mais voltado para leituras técnicas por conta de ter uma profissão na área de exatas. Com certeza foi um ganho estar presente na Bienal, absorvendo estas informações. Recomendo que, quem for na próxima Bienal, reserve um momento para assistir a um tema, pelo menos, que lhe possa interessar.
A palestra foi muito instrutiva e esclarecedora, principalmente para mim que sempre fui mais voltado para leituras técnicas por conta de ter uma profissão na área de exatas. Com certeza foi um ganho estar presente na Bienal, absorvendo estas informações. Recomendo que, quem for na próxima Bienal, reserve um momento para assistir a um tema, pelo menos, que lhe possa interessar.
Sobre o palestrante:
Pedro de Almeida é jornalista e professor
de literatura. Possui experiência de 20 anos, atuando na gestão de
editoras de pequeno e médio porte e como publisher em editoras de
grande porte, nas áreas de ficção, não ficção e auto-ajuda. Foi
editor de alguns grandes best-sellers. Para quem quizer saber mais
sobre ele ou mesmo fazer algum contato, seguem alguns endereços.
Site/blog: www.faroeditoral.com.br
(próprio); www.faroeditora.com.br (da Editora do palestrante)
E-mail do palestrante:
pedrozalmeida@uol.com.br
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