Ed. Globo (2009), 256 páginas |
"E pensei nos livros. E pela primeira vez percebi que havia um homem por trás de cada um dos livros. Um homem teve de concebê-los. Um homem teve de gastar muito tempo para colocá-los no papel. E isso nunca havia me passado pela cabeça."
Fahrenheit 451, "a temperatura na qual o papel do livro pega fogo e queima", é um clássico da distopia, assim como "Admirável mundo novo", "Laranja mecânica" e "1984". Nesta obra, Bradbury, conhecido por seus livros de ficção científica, conta uma história futurista na qual a maior tecnologia já desenvolvida pela humanidade é sistematicamente eliminada a pretexto da garantia da felicidade da população: os livros são queimados, paradoxalmente, por bombeiros, um dos quais Montag, o protagonista que enunciou a citação acima.
Huxley lidou com o (ab)uso da Ciência, principalmente da Genética, para a maximização do prazer de viver; Burgess, com o emprego do condicionamento neopavloviano (lavagem cerebral) para combate à criminalidade; Orwell descreve uma sociedade em que o mal (tudo o que contraria as diretivas do Partido) é "vaporizado", em que a história é um eterno palimpsesto, apagada e reescrita, e o controle extremo sobre as pessoas visa reformar a própria mente, tornando qualquer antagonismo ao poder tecnicamente impensável. Bradbury escreve sobre a ponte que liga nossos dias a esses prováveis futuros, que, se ainda nos parecem hoje lugar (-topia) que dificilmente poderíamos aceitar habitar (dis-), não parecem inverossímeis alternativas de amanhã dados os passos que a sociedade já tem dado em direção a ele: a busca de prazeres imediatos ("modernidade líquida", segundo o filósofo Zygmunt Bauman), caracterizada em "Fahrenheit 451" pela substituição dos livros por mídias simplificadas (simplistas) e vazias, como a TV interativa. Afinal, sempre incomodou que os livros tenham "consciência demais do mundo".
Huxley lidou com o (ab)uso da Ciência, principalmente da Genética, para a maximização do prazer de viver; Burgess, com o emprego do condicionamento neopavloviano (lavagem cerebral) para combate à criminalidade; Orwell descreve uma sociedade em que o mal (tudo o que contraria as diretivas do Partido) é "vaporizado", em que a história é um eterno palimpsesto, apagada e reescrita, e o controle extremo sobre as pessoas visa reformar a própria mente, tornando qualquer antagonismo ao poder tecnicamente impensável. Bradbury escreve sobre a ponte que liga nossos dias a esses prováveis futuros, que, se ainda nos parecem hoje lugar (-topia) que dificilmente poderíamos aceitar habitar (dis-), não parecem inverossímeis alternativas de amanhã dados os passos que a sociedade já tem dado em direção a ele: a busca de prazeres imediatos ("modernidade líquida", segundo o filósofo Zygmunt Bauman), caracterizada em "Fahrenheit 451" pela substituição dos livros por mídias simplificadas (simplistas) e vazias, como a TV interativa. Afinal, sempre incomodou que os livros tenham "consciência demais do mundo".