sábado, 26 de julho de 2014

Resenha: "Uma história politicamente incorreta da Bíblia" (Robert J. Hutchinson)

Ed. Agir; 256 páginas
"Ao modelar a civilização - e aqui falamos da lei, do governo, da ciência, da mídia e da educação ocidentais -, a Bíblia deu formato ao mundo."

Publicado nos EUA em 2007, este livro é uma resposta concisa mas inteligente (e até malcriada!) a uma série de (des)informações que são divulgadas contra a Bíblia, e a religião em geral, que pervasivamente têm-se constituído na opinião politicamente correta (e chic!) sobre o livro que, além de sagrado para e base da fé de um terço da humanidade, também deu "formato ao mundo".

Embora breve (que são 256 páginas para abordar tão vasto e polêmico tema?), Hutchinson se vale duma escrita que torna o texto fartamente instrutivo, engatilhando para o leitor sinceramente interessado em ter uma visão equilibrada sobre a autenticidade, o papel e o valor das Escrituras, referências e vínculos que trarão a lume réplicas e contra-argumentos do outro prato muitas vezes silenciado e ridicularizado na balança dos debates.
Robert J. Hutchinson

O autor divide a obra em 13 capítulos conforme abaixo:

Capítulo 1 - Por que se amontinam os gentios?
Trata da "anti-propaganda" ateia que tem disseminado (des)informações acerca da religião e da Bíblia. Aborda o papel da mídia irreverente e irresponsável e do "fundamentalismo secular" nesse processo. Por fim, avalia uma das mais bem-sucedidas acusações que têm sido levantadas por ateus: a de que a religião é responsável pelos maiores morticínios da história.

Capítulo 2 - Pedras que clamam
Aborda os dados arqueológicos que atestam a veridicidade de personagens e eventos narrados nos textos hebraico-aramaicos e gregos que compõem a Bíblia. Uma discussão mais detalhada nesta parte é a que trata da polêmica em torno da facticidade do Êxodo.

Capítulo 3 - Todas as escrituras sagradas foram um sopro divino
Crítica para qualquer discussão a respeito de textos considerados sagrados é a dimensão do conceito de "inspiração divina". Daí decorre a questão da aplicabilidade e da infalibilidade da Bíblia que dá origem a tantas acusações de falhas e inconsistências históricas, científicas e morais, que são avaliadas neste capítulo.

Capítulo 4 - O começo
O autor aborda a diferença do relato bíblico da Criação em relação aos de outros povos da Antigüidade e a concepção de Divindade radicalmente monoteística dos antigos hebreus.

Capítulo 5 - Frutificai e multiplicai-vos
Sexo e família segunda a Bíblia e sua atitude pró-vida em contraste, por exemplo, com a banalização da morte de crianças entre os povos pagãos antigos e em "filosofias" modernas.

Capítulo 6 - À imagem e semelhança de Deus
Aqui analisa-se o papel da crença em Deus e na proveniência divina do homem na promoção da dignidade humana, com destaque para o humanitarismo (caridade, filantropia).

Capítulo 7 - Guardai os meus mandamentos
Neste capítulo, Hutchinson discorre sobre as leis bíblicas, comparando-as com outros códigos antigos, com destaque para oito grandes diferenças que ressaltam as leis mosaicas como base para "os princípios de justiça, misericórdia, preocupação com os pobres e igualdade perante a lei" presumidamente ausentes no Antigo Testamento. "Se algumas partes da lei bíblica podem soar severas demais, só conseguimos reconhecer essa dureza toda porque vivemos numa sociedade que foi formatada por dois mil anos de reflexão e experiência com os princípios de justiça e misericórdia encontrados nessa mesma lei".

Capítulo 8 - Sodoma e Gomorra
Polêmico capítulo que trata de tentativas de neutralizar passagens bíblicas contrárias ao homossexualismo. Uma afirmação interessante, citada pelo autor, é a de que "talvez se possa dizer que foi o próprio judaísmo que inventou a ideia de homossexualidade".

Capítulo 9 - Os céus declaram a glória de Deus
Capítulo interessantíssimo que revira de ponta-cabeça a ideia de que a Bíblia representa um entrave ao progresso e à Ciência. Para uma antecipação da argumentação de Hutchinson, que chega ao ponto de avaliar a religiosidade de cientistas e a falta de autoridade científica de grande parcela de opositores ateus, apontam-se no texto as afirmações de que "o empreendimento científico se desenvolveu em um único lugar e tempo na história: a Europa cristã" (grifos do autor) e que "no grande debate sobre religião e ciência, os cristãos e judeus de fé podem contar com a metade mais esclarecida" da humanidade.

Capítulo 10 - Vós fostes chamados à liberdade
Outra acusação levantada contra a moralidade da Bíblia é a suposta instituição da escravidão entre os antigos hebreus. O autor propõe o contrário: é às Escrituras que devemos o antiescravismo e nossa concepção moderna de liberdade. Trecho estarrecedor de como a fé impulsionou a humanidade nesse sentido, Hutchinson menciona o fato de que "alguns dos primeiros cristão costumavam vender a si mesmos como escravos e usavam o dinheiro para libertar outras pessoas da servidão ou para comprar comida para elas".

Capítulo 11 - "Providos, pelo Criador, de certos direitos inalienáveis": a Constituição norte-americana
O que tem a Bíblia a ver com a constituição dos EUA e os direitos universais do homem?

Capítulo 12 - Não confieis em príncipes
A questão do governo: o papel da Bíblia e da religião cristã na liberdade política e na democracia.

Capítulo 13 - E vós, quem dizeis que eu sou?
Fechando a obra, o autor trata da intrigante personalidade do homem que em três anos revolucionou o mundo inteiro. A historicidade de Jesus em cheque e em evidência.

Quadros
Como dissemos acima, o livro possui vários quadros com informações adicionais que enriquecem o texto.
  • "As escrituras falam": passagens da Bíblia apropriadas aos temas debatidos.
  • "Você sabia?": breves incisos que resumem as conclusões a que se chegará no decorrer do capítulo.
  • "Quem disse isto?": frases de personagens diversos da história, antiga e moderna, sobre a Bíblia.
  • "A "sabedoria" ateia versus o Livro Sagrado": comparação do pensamento oriundo da Bíblia e daquele originado de pensadores e filosofias ateus.
  • "A Bíblia na história norte-americana": comentários sobre o papel da Bíblia segundo vultos nacionais estadunidenses.
  • "Um livro que os ateus gostariam de queimar": referências de obras que fazem a balança pender para o lado das Escrituras no âmbito das diversas polêmicas suscitadas contra elas e a religião.
  • "Quadros de notas específicas": diversos quadros sobre questões pontuais, notas específicas que aprofundam abordagens do capítulo, por exemplo, "Descoberta arqueológica: seriam os hebreus os habirus?", ou "Como um dilúvio poderia cobrir 'toda' a terra?", etc.
Por fim, gostaria de fazer um excerto da citação de um dos quadros "Quem disse isso?", de autoria de um dos mais ácidos e mordazes críticos ateus da atualidade, o jornalista Christopher Hitchens: 

"Se você não conhece a Bíblia, não pode se considerar formalmente educado".


Site do autor (em inglês): http://roberthutchinson.com/

3 comentários:

  1. Eis outra obra separada como leitura complementar aos estudos bíblicos. As colocações feitas nesta resenha batem com algumas dúvidas que tenho tido com o início da leitura da Bíblia. Acredito que será esclarecedor. Obrigada pela colaboração e a sugestão desta obra. Terminando de ler, passo aqui para deixar minhas impressões. Abraços!

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  2. Mais um não especialista (jornalista) fazendo ares de super especialista. Quanto trabalhos novos Hércules terão que haver para limpar tantas estrebarias.

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