segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Resenha: A senhoria (Fiódor Dostoiévski, 1856)

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"Por fim não pôde mais resistir; todo o seu peito começou a tremer, num átimo ele sucumbiu a um espasmo de uma doçura inusitada e, soluçando, inclinou a cabeça escaldante sobre o ladrilho gelado da igreja. Não ouvia nem sentia nada, além da dor no coração, que agonizava num doce tormento."

Prezado leitor, voltamos a lhe apresentar mais uma obra do escritor russo Dostoiévski. Como bem sabes, resenhamos Gente Pobre, e depois O Duplo, tentando seguir a ordem cronológica das publicações das obras. Assim, esperamos que notem a evolução deste escritor tão conhecido pelos romances Crime e Castigo e Irmãos Karamazov (vamos torcer que neste ano consigamos resenhar estas obras!).

Quem leu O Duplo, notará uma mudança de estilo, embora ainda perceba o tom intimista e psicológico do escritor. Todavia, o viés desta obra se assemelha mais ao de Gente Pobre

Nossos personagens são bem curiosos. Começamos conhecendo Ordínov, um jovem que se dedica aos estudos, leituras... um homem voltado para a ciência. Chega ao ponto de se afastar de qualquer convívio social, isolando-se de tudo e de todos: "Em dois anos havia se asselvajado completamente."). E é este jovem, tão cheio de expectativas quanto a descobertas, apegado à sua paixão pela ciência, vê-se na necessidade de buscar um outro lugar para morar. Nesta busca, irá conhecer uma jovem e um senhor. Num primeiro momento, de modo bem confuso, sem entender qual é a relação entre ambos, mas certo do seu fascínio pela moça; e depois, por conta da situação de se tornar inquilino deles, joga-nos num turbilhão de delírios e de iminência tragédia.

O mistério que rodeia Katierina, a senhoria do título, prende o protagonista da história e o leitor: o que esconde tamanha beleza, tão exaltada pelo narrador? Notamos em seu comportamento uma inquietação na alma, como se um pecado mortal a acompanhasse a todo lugar e, nessa fuga sem êxito, desejamos acolhê-la em nossos braços e confortá-la. Acabamos por compreender o fascínio e a paixão avassaladora que inunda nosso Ordínov, mas ao mesmo tempo há algo de sinistro... um sentimento de que esta relação não fará bem a ninguém. 

É no personagem Múrin, o senhor que mora com a moça e com quem tem um relacionamento nebuloso, que encontramos o mistério maior: qual é a sua verdadeira intenção? Neste personagem que sentimos um certo calafrio; uma magia negra no ar e que nos faz desejar sair do quarto. Mas ao notar que nosso protagonista está embevecido pela senhoria, e as razões que o fizeram sucumbir a tão intenso sentimento, acabamos por compreender, ainda que saibamos ser loucura, a sua insistência em continuar o contrato de locação.

O desfecho dessa relação faz-nos lembrar que estamos lendo um russo... o romantismo que ronda na nossa cabeça não é o mesmo presente na obra. É uma narrativa que fascina e inquieta, pois notamos que algo de bom não pode acontecer considerando as situações de tensão e paixão existentes entre os personagens. Quem começou a ler Dostoiévski, já deve ter notado seu talento de fazer o leitor desejar continuar a leitura para saber o que vai acontecer. 

Temos, portanto, uma obra que é classificada como romântica, ainda que seja ao estilo russo. Não a considero uma obra de imprescindível leitura, todavia, se estamos dispostos a conhecer a trajetória deste escritor, e sendo uma obra curta, vale a leitura.

Nesta edição em especial, temos ao final um posfácio feito pela tradutora Fátima Bianchi. Recomendo a leitura: uma aula sobre o valor de uma boa tradução e da confiabilidade da fonte originária para se ter credibilidade no trabalho realizado. Sem contar as informações contextuais da obra que enriquecem ao leitor iniciante nos clássicos, situando-o com relação ao momento histórico e os propósitos do escritor.

Um comentário:

  1. COMENTAREI APÓS LER A OBRA. certamente A APRECIAREI, POIS ME PRENDE A FORMA intimista de COMO O AUTOR PENETRA A FUNDO NA NATUREZA HUMANA REVELANDO a luta entre o bem e o mal.

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