Intrínseca (2013), 208 páginas |
Quando tomei conhecimento da existência deste livro e tive a oportunidade de adquiri-lo, uma única frase se passou pela minha mente: "É do Neil Gaiman!". Sou fã desse autor há anos por causa de Sandman, sua obra-prima em formato de história em quadrinhos. Outra joia dele é Stardust, que inspirou um filme britânico de sucesso, frequentemente reprisado na Globo.
A narrativa, bastante introspectiva, é construída a partir das reminiscências do protagonista (cujo nome não nos é apresentado) sobre um período de sua infância muito feliz e, ao mesmo tempo, perturbador, durante o qual ele conheceu e conviveu com as mulheres Hempstock - em especial, Lettie, (aparentemente) alguns anos mais velha do que ele. Ao se sentar à margem do laguinho que Lettie chamava de oceano, as recordações voltam à tona, como se tivessem sido subitamente soltas, após terem estado presas a uma pedra no fundo do lago. Poucos trechos falam sobre o antes e o depois dessa época. O restante da vida do personagem, tanto criança como adulto, parece ter sido marcado pela solidão.
Neil Gaiman (1960 - ...) |
As Hempstock são criaturas especiais, bastante misteriosas. Fiquei com a sensação de que muito mais poderia ter sido contado sobre elas. Mas Neil Gaiman costuma ser assim mesmo: joga a ponta de um novelo reluzente, que o leitor, se quiser, deve continuar puxando por conta própria. De qualquer forma, a história é do tamanho que precisa ser, exatamente como o oceano de Lettie. Uma fábula curta para aquecer o coração de adultos, que nos fala de infância, magia e amizade.
Por Mariana Piacesi